sexta-feira, 10 de setembro de 2021

Vaca louca: o que é, e por que novos casos no Brasil são menos graves que epidemia letal dos anos 1990?

 O governo brasileiro confirmou neste sábado, 4 de Setembro, a ocorrência de dois casos atípicos do “mal da vaca louca” em frigoríficos de Nova Canaã do Norte (MT) e de Belo Horizonte (MG).  Estes são o quarto e o quinto casos atípicos registrados em mais de 23 anos de vigilância para a doença, segundo a Secretaria de Defesa Agropecuária do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). As amostras dos animais foram enviadas a um laboratório da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, em inglês), no Canadá, para análise detalhada.

Mas o que é a doença da vaca louca?

A encefalopatia espongiforme bovina (EEB) — nome oficial do mal da vaca louca — é uma doença degenerativa que atinge o sistema nervoso do gado. É conhecida popularmente como doença da vaca louca porque os sintomas incluem agressividade e falta de coordenação. A doença também é conhecida como BSE, por causa do seu nome em inglês (bovine spongiform encephalopathy). Ela é causada por um tipo de proteína chamada príon e normalmente é fatal para os animais.


Fonte: Google Imagens

A versão humana da doença mais comum hoje em dia é conhecida como Nova Variante da Doença de Creutzfeldt-Jakob (vCJD) e também é letal. Ela está ligada ao consumo de carne contaminada. A doença ataca o cérebro progressivamente, mas pode ficar dormente por décadas.

Desde 1995, quando foi identificada, a vJCD já matou 178 pessoas. Entre os principais sintomas da vaca louca estão:

·       Nervosismo

·       Apreensão

·       Medo

·       Ranger dos dentes

·       Hipersensibilidade ao som, toque, luz

·       Ataxia

Qual é a causa da doença?

É provocada pela forma infectante de uma proteína (príon) presente nos restos mortais de bovinos e bubalinos que manifestaram a doença. O consumo de alimentos contaminados pelo príon é a principal via de transmissão. Animais sadios podem contrair a doença pela ingestão de alimentos que contêm farinhas de ossos, carnes e carcaças de animais infectados. Por isso, é proibida a alimentação de bovinos, bubalinos, caprinos e ovinos com produtos de origem animal.

Fonte: CNN Brasil

O sistema brasileiro de criação de bovinos, principalmente para engorda, é quase que inteiramente a pasto e a suplementação alimentar usada é à base de proteína vegetal, como soja, milho e caroço de algodão.  Desde o aparecimento da doença na Europa, o serviço oficial de defesa sanitária animal do Brasil adotou medidas para evitar a introdução da doença no país, como a proibição de importação de animais e seus produtos vindos de países com registro da doença.  O país também proibiu, em 1996, o uso de proteína animal na alimentação de ruminantes – exceto leite e derivados.  Além disso, em 2019 o Mapa criou um comitê para revisar as normas para vigilância, controle, erradicação, certificação e emergência sanitária do mal da vaca louca.

Mas por que novos casos no Brasil são menos graves que epidemia letal dos anos 1990?

A notícia de que o Brasil suspendeu por tempo indeterminado as exportações de carne bovina para a China no fim de semana devido a identificação de dois casos de vaca louca provocou preocupações em alguns consumidores e gerou incertezas sobre o preço do produto.

O ministério da Agricultura rapidamente emitiu uma nota dizendo que os casos identificados em frigoríficos de Belo Horizonte e Nova Canaã do Norte (MT) não representam risco para saúde humana ou animal. O frigorífico de Belo Horizonte foi interditado, segundo o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Segundo a nota, casos atípicos como esse não são considerados graves e o Brasil continua sendo um país de "risco insignificante para a doença, não justificando qualquer impacto no comércio de animais e seus produtos e subprodutos".

A suspensão das exportações para a China se deu por conta do estrito protocolo sanitário em vigor entre os dois países — e o governo brasileiro espera que nos próximos dias a exportação já possa ser normalizada.

Para muitas pessoas, a doença da vaca louca traz memórias assustadoras dos anos 1980 e 1990, quando um surto no Reino Unido levou ao abatimento de quatro milhões de cabeças de gado e a dezenas de mortes de pessoas que haviam ingerido carne contaminada — com boicotes e prejuízos bilionários aos produtores britânicos.

Então como esses casos no Brasil são diferentes do que aconteceu no Reino Unido? Isso acontece porque a variante da doença identificada no Brasil é considerada menos perigosa do que aquela que se alastrou há 30 anos. Ainda assim, a variante é monitorada de perto pela indústria e por autoridades sanitárias.

Por que o caso no Brasil seria menos grave?

Isso acontece porque a variante da doença identificada no Brasil não representa um risco à saúde pública, segundo autoridades sanitárias.

A doença da vaca louca pode se manifestar de duas formas — a variante clássica e a atípica.

A clássica ocorre em bovinos após a ingestão de ração contaminada com príons, enquanto a atípica pode aparecer espontaneamente em todas as populações de gado. Acredita-se que isso poderia ter acontecido agora em Belo Horizonte e Nova Canaã do Norte (MT) — como também aconteceu em junho de 2019 em outra cidade no Mato Grosso.

A forma clássica da doença é a mais preocupante e foi detectada pela primeira vez em 1986. No Brasil, ela nunca foi detectada. Foi essa variante que causou o pânico e as mortes dos anos 1990. Ela se espalha rapidamente entre os animais através da ingestão de ração contaminada com príons.

Não existe cura para a doença de Creutzfeldt-Jakob — que é fatal — e o único tratamento é ajudar o paciente a conviver com os distúrbios provocados. Por isso, a principal medida de prevenção da doença é usar protocolos sanitários rígidos que impeçam o consumo de qualquer carne contaminada.

Embora não haja provas de que a vaca louca atípica seja transmissível, essa hipótese também não foi descartada. Por isso, como medida de precaução, autoridades de saúde fazem de tudo para impedir que essa variante seja introduzida na cadeia alimentar animal.

O que aconteceu na epidemia de vaca louca dos anos 1980 e 1990?

A epidemia de doença da vaca louca começou no Reino Unido nos anos 1980. Isso levou à proibição do uso de miúdos bovinos para consumo humano em 1989. Muitas pessoas temiam ser contaminadas ao consumir, principalmente, produtos com carne processada.

No ano seguinte, o ministro da agricultura, John Gummer, disse que a carne de vaca era "completamente" segura. Para "provar", ele convocou a imprensa para uma entrevista coletiva na qual comeu um hambúrguer. No mesmo evento, ele tentou convencer sua filha de 4 anos de idade a comer também — ela não quis. Isso foi antes de a ciência confirmar o risco da doença para humanos.



John Gummer e sua filha Cordelia em 1990. Fonte: BBC Brasil

A epidemia atingiu um pico entre 1992 e 1993, quando foram confirmados quase 100 mil casos. No total, estima-se que 180 mil cabeças de gado tenham sido afetadas.

O surto aconteceu porque os animais costumavam ser alimentados com ração feita com restos de carne, miúdos e medula óssea, que muitas vezes estavam contaminados com os príons.

Para tentar conter a doença, mais de 4,4 milhões de animais foram sacrificados. Hoje, cérebro e medula espinhal são descartados e não voltam para a cadeia de alimentação.

Também há um processo de monitoramento mais rigoroso. O Reino Unido introduziu controles mais rígidos para proteger a população. Passou a ser ilegal vender determinados cortes de carne, incluindo a venda de carne com osso - isso foi introduzido em 1997 e removido um ano depois. Outra medida foi importar plasma para tratar pessoas nascidas após janeiro de 1996 em caso de exposição à doença. Muitos países pararam de importar carne do Reino Unido - a China só acabou com sua restrição em 2018.

 

Fonte:

Por: BBC NEWS, Brasil. Vaca louca: por que novos casos no Brasil são menos graves que epidemia letal dos anos 1990. Disponível em: <https://www.bbc.com/portuguese/internacional-58466749> Acesso em 06 de Setembro de 2021.

CNN Brasil. Entenda o que é o ‘mal da vaca louca’, identificado em bovinos de MG e MT. Disponível em: < https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/entenda-o-que-e-o-mal-da-vaca-louca-identificado-em-bovinos-de-mg-e-mt/> Acesso em 06 de Setembro de 2021.



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