quarta-feira, 25 de setembro de 2019

TRANSPLANTE DE MICROBIOTA FECAL E SEUS RISCOS

TRANSPLANTE DE MICROBIOTA FECAL E SEUS RISCOS

Quando falamos em transplantes, logo vêm à mente os mais comuns, como de órgãos ou de tecidos. Se contarmos que também existe transplante de fezes, muitas pessoas ficarão no mínimo surpresas. Por mais estranho que pareça, bactérias contidas nas fezes podem ser importantes para tratar pacientes com doenças no trato intestinal.
Diversos tipos de bactérias, tanto benéficas como patógenas, vivem naturalmente no nosso intestino. O problema ocorre quando algum desequilíbrio provoca a reprodução de bactérias C. difficileTudo começa quando a pessoa usa algum antibiótico para tratar de uma doença, como efeito colateral, o remédio mata uma parte excessiva dos trilhões de bactérias presentes no intestino (microbiota), permitindo que a bactéria invasora se reproduza. Fatores como o uso exagerado de antibióticos e deficiência do sistema imunológico podem contribuir para esse desarranjo.
Se não houver tratamento o quanto antes, as toxinas das C. difficile podem causar inflamação no intestino grosso (colite). O paciente costuma apresentar sintomas como diarreia, fezes com sangue e febre. Em casos raros, a bactéria pode causar infecção no revestimento das paredes do abdômen (peritonite), sepse e perfuração do cólon. O risco de efeitos mais graves é maior em pessoas com imunodeficiência, idosos e pessoas com doenças crônicas ou degenerativas que podem influenciar a imunidade ou modificar o processo de absorção intestinal.
Para conter a infecção, a primeira tentativa usualmente é o uso de antibióticos. Mas por ser uma bactéria extremamente resistente, pode não ser suficiente, sendo então indicado o transplante de microbiota fecal (FMT), que tem sido explorado como uma maneira de redefinir o delicado ambiente bacteriano do intestino de uma pessoa. 
Os cientistas descobriram que, quando se trata da variedade mais resistente da bactéria, os antibióticos só dão resultado em 30% dos casos. Já o transplante de fezes funciona em 90%, porque o material transferido contém uma microbiota saudável, que recoloniza a região e impede a proliferação da invasora.
A maioria das FMTs é realizada por meio de um enema, embora os médicos estejam estudando se uma cápsula das bactérias intestinais do doador, administrada por via oral, pode funcionar igualmente bem. O microbioma intestinal de um receptor é limpado o máximo possível com antibióticos pesados, e então uma solução de fezes com as bactérias do intestino do doador são transplantadas para o paciente, por via anal, oral ou nasal, o qual vão ocupar o espaço e irão competir por nutrientes, o que consequentemente controla a proliferação do C. difficile e leva o intestino a um equilíbrio saudável de bactérias novamente.
Acredita-se que um desequilíbrio do microbioma intestinal contribui para condições como a síndrome do intestino irritável (SII), a doença inflamatória intestinal (DII) e, possivelmente, até mesmo doenças metabólicas, como a obesidade. Estudos recentes mostraram benefício do transplante em pacientes com doença inflamatória intestinal e síndrome metabólica, necessitando, contudo, de mais evidências. Até agora, o potencial mais claro para o FMT tem sido para pessoas com uma infecção recorrente e frequentemente de C. difficile.
O primeiro transplante de fezes no Brasil ocorreu no final de 2014. Segundo a Comissão Científica da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva, o número tende a aumentar a cada ano, conforme mais estudos relacionados ao tema são realizados. O consenso europeu de transplante de microbiota intestinal afirma que esse procedimento está indicado e comprovado para pacientes com infecção recorrente por C. difficilePor ser um tratamento novo, ainda não foi regulamentado em vários países, inclusive no Brasil, mas já é realizado em caráter experimental em São Paulo.


COMO É FEITO O TRANSPLANTE

Todo o processo dura cerca de 15 a 30 minutos e requer algumas etapas
1. Verificação das fezes doadas
O doador precisa preencher alguns pré-requisitos. Primeiro, faz-se uma investigação do seu histórico de doenças. O doador deve estar livre de infecções como HIV, hepatites B e C (virais), além de doenças infecto-parasitárias como malária, giardíase, entre outras. Avalia-se também se o mesmo tem doenças gastrointestinais, metabólicas e neurológicas e, por fim, se utilizou antibióticos, probióticos ou quimioterápicos nos últimos três meses.

2. Processamento das fezes  
Após serem aprovadas, as fezes do doador são recolhidas no hospital em um frasco limpo, sem contato com o vaso sanitário, e processadas por um laboratório habilitado. No transplante utilizam-se cerca de 100 a 200 g de fezes, que são misturadas com soro fisiológico para se obter um total de 250 ml de solução. Esta é, então, filtrada para remoção de partículas grosseiras (principalmente fibras alimentares).

3. Inserção das fezes no intestino do receptor 
Antes do transplante, o paciente fica em jejum de alimentos que não produzam fezes com fibras e proteínas por seis horas. Ele recebe sedação venosa para ficar inconsciente durante o procedimento. É realizada uma lavagem intestinal por meio de laxante.
A inserção das solução de fezes com soro pode ser feita de duas maneiras: pela boca (a mais moderna) ou pelo ânus. Quando é feita pela boca, introduz um aparelho de endoscopia ou colonoscopia infantil pela cavidade oral do paciente até o jejuno, parte superior do intestino delgado. A outra maneira é pelo ânus, utilizando um aparelho de colonoscopia padrão que libera a solução no intestino grosso.
Após o transplante, os cuidados são semelhantes aos de um exame de endoscopia ou colonoscopia. O paciente deve permanecer monitorado até se recuperar da sedação e recebe alta no mesmo dia.


CIENTISTAS COGITAM USAR O TRATAMENTO PARA OUTRAS DOENÇAS

-Colites
-Síndrome do intestino irritável
-Doença de Crohn
-Síndrome metabólica
-Diabetes
-Esclerose múltipla
-Obesidade
-Autismo
-Doença de Parkinson

RISCOS SOBRE O FMT

Entretanto, um transplante de fezes pode apresentar riscos mais graves do que se pensava anteriormente. O FDA (Food and Drug Administration), órgão regulador de alimentos, medicamentos e procedimentos de saúde nos Estados Unidos, gerou um alerta para profissionais de saúde sobre a realização de transplantes fecais. Segundo o comunicado, dois pacientes imunodeprimidos, que realizaram o transplante, desenvolveram uma infecção invasiva causada por Escherichia coli multirresistente (E.coli) e um deles morreu.
A bactéria Escherichia coli vive normalmente no intestino humano. Porém, assim como no caso relatado pelo FDA, quando essa bactéria é transmitida para um indivíduo imunodeprimido, ela pode colonizar o intestino, cair na corrente sanguínea e gerar uma sepse, podendo levar à morte.
Em 2013, quando os testes da FMT começaram a decolar, a agência anunciou que adotaria uma abordagem de não intervenção na regulamentação de seu uso inicial para infecções de C. diff.. Desde que os pacientes fossem informados antecipadamente sobre os riscos potenciais e a natureza experimental do tratamento pelos médicos, seria menos rigoroso aprovar ou supervisionar novos ensaios clínicos.
Mas, com o resultado desses casos trágicos, a agência agora exige que todos os testes investigativos examinem preventivamente seus doadores em busca de fatores de risco que os tornem mais propensos a ter superbactérias, além de testar as amostras de doadores para analisar se há presença dessas bactérias. Os médicos também devem informar os voluntários previamente sobre esses sérios riscos recém descobertos.

domingo, 15 de setembro de 2019

Resolução da ANVISA para prestação de serviços de alimentação em eventos de massa


 A ANVISA publicou do D.O.U 168 a Resolução – RDC n°43, de 02 de setembro de 2015 que Dispõe sobre a prestação de serviços de alimentação em eventos de massa, revogando a RDC n° 33/2014.
 A nova RDC ficou bem mais completa, composta por 3 capítulos e 53 artigos que vão desde definições, campo de aplicação, responsabilidades, documentação, Boas Práticas de Fabricação e penalidades sanitárias.
 Os 53 artigos trazem muitas informações importantes que além de estabelecer as regras sobre a prestação dos serviços de alimentação em eventos de massa e também inclui os requisitos mínimos para avaliação prévia e funcionamento de instalações e serviços relacionados ao comércio e manipulação de alimentos, além de trazer uma Lista de Verificação nos anexos.
 Com isso, alguns pontos da Resolução são importantes destacar:
  • A Resolução se aplica para eventos públicos ou privados, que envolvam diariamente um contingente superior a 1.000 (um mil) pessoas, e onde forem realizadas as atividades de recebimento, preparo, acondicionamento, armazenamento, transporte, distribuição, exposição ao consumo e comercialização de manipulação de alimentos (Art. 2°);
  • Não restringe apenas a públicos acima de 1.000 pessoas, podendo ser aplicada a eventos com quantitativo inferior, conforme determine a autoridade sanitária local (Parágrafo único, Art. 2°);
  • Não apenas as empresas que fornecem o serviço de alimentação, mas também organizadores de eventos e as empresas e empresários contratados pelos organizadores de eventos e prestadores de serviços contratados (envolvidos na manipulação de alimentos) estão obrigados à aplicação da Resolução (Art. 3°);
  • Varias definições importantes para o entendimento da Resolução (ex: “restos: todo alimento preparado, distribuído e não consumido”) (Art. 5°);
  • Qualquer agravo à saúde relacionado ao consumo dos alimentos devem ser comunicados imediatamente e garantir acesso livre a áreas e locais de manipulação à autoridade sanitária local. E, todos os envolvidos respondem diretamente ou solidariamente por eventuais danos à saúde do público e dos trabalhadores, decorrentes do consumo de alimentos impróprios (Art.7°, 9° e10°);
  • Dependendo da natureza e complexidade poderá ser exigida um profissional habilitado para a supervisão das atividades (Art. 8°);
  • Os responsáveis da organização do evento e as empresas ou empresários por eles contratados devem protocolar em até 30 dias antes do início do evento o Formulário de Avaliação Prévia das Instalações e dos Serviços Relacionados à Manipulação de Alimentos apresentado no Anexo I da Resolução, para que sejam avaliados previamente pela autoridade sanitária local (Art. 11 e 12°);
  • Cada instalação e serviço relacionado à manipulação deve possuir no mínimo 1 (um) responsável capacitado em Boas Práticas e caberá a autoridade sanitária local definir os requisitos sobre a capacitação do mesmo (Art. 13°);
  • Às instalações ou serviços que funcionem regularmente se aplicam os requisitos das Resoluções RDC 216/2004 e RDC 218/2005 e demais normas pertinentes (Art. 15°);
  • A frequência das inspeções das instalações, que sejam prévias ou concomitantes, ficará a cargo da autoridade sanitária local e será por meio da LV no Anexo II (Art. 17°);
  • Algumas exigências relacionadas aos serviços de alimentações em massa, com por ex: acúmulo de objetos, áreas internas, estruturas, higiene do ambiente e superfícies e utensílios, equipamentos, móveis e tipo de material estão todas definidas na resolução (Arts. 18,19,20,21);
  • Os saneantes utilizados devem esta regularizada na ANVISA, como também assuntos relacionados a lixos, vetores e pragas (Arts. 22 a 26);
  • Também traz orientações para os manipuladores e treinamentos, além de requisitos para preparo, cocção, temperaturas, armazenamento, veículos de transportes, gelo, entre outros (Arts. 29 a 48);
  • Exige manter amostras dos alimentos e método de coleta (Art. 50);
 A Resolução também determina que o descumprimento das disposições contidas, constitui infração sanitária, sujeitas a penalidades previstas nos termos da Lei nº. 6.437, de 20 de agosto de 1977 e legislações sanitárias estaduais e municipais pertinentes. Além dessas, muitos outros requisitos serão obrigatórios para os serviços de alimentação em massa.
 Essa Resolução demonstra um grande passo na segurança e qualidade da produção e comercialização de alimentos, garantindo assim a saúde do consumidor.


Referências: Food Safety Brazil. Anvisa publica Resolução para prestação de serviços de alimentação em eventos de massa. Disponível em: https://foodsafetybrazil.org/anvisa-publica-resolucao-para-prestacao-de-servicos-de-alimentacao-em-eventos-de-massa/. Acesso em: 15/09/2019.



sexta-feira, 13 de setembro de 2019

Por que não devemos lavar o frango antes de cozinhá-lo

Fonte: BBC News

Lavar o frango cru é um hábito comum, mas agências de proteção alimentar afirmam que a prática ajuda a espalhar germes perigosos por toda a cozinha.


Recentemente foi publicado pelos Centros de Controle de Doenças dos EUA (CDCs)  advertindo que lavar a carne da ave antes de cozinhá-la pode fazer com que micróbios se espalhem por outros alimentos e utensílios de cozinha.

O assunto veio a tona após uma pesquisa identificar que 44% dos britânicos lavavam a carne crua, seja porque acreditavam estar eliminando germes ou simplesmente por hábito. No Brasil, também circulam rotineiramente alertas sugerindo, erroneamente, que as pessoas lavem as aves antes de cozinhar.

A recomendação gerou um debate entre os que agradeceram a dica e os que a rejeitaram, afirmando não confiar na higiene das embalagens de frango, e os acharam que bastaria limpar a pia depois de limpar o frango para acabar com as bactérias.

O CDC manteve sua recomendação original afirmando que a melhor forma de limpar uma ave é cozinhando-a bem e ainda afirmou: "Não se deve lavar nem o frango nem outras carnes ou ovos antes de cozinhá-los. Isso pode propagar micróbios por toda a cozinha".



Em 2014, a Agência de Regulamentação Alimentar do Reino Unido (FSA) também havia advertido que lavar o frango antes do cozimento aumenta o risco de propagação da bactéria campylobacter nas mãos, nas superfícies e utensílios de cozinha.



A bactéria campylobacter, citada pelo FSA, é  uma das causas mais comuns de intoxicação alimentar, causando dores abdominais, diarreia, febre, náuseas e vômito, e está presente em carnes e vegetais crus ou leites não pasteurizados.

A forma mais eficaz de combatê-la, informa a OMS (Organização Mundial da Saúde), é cozinhando bem os alimentos.

"A campylobacter se espalha facilmente, e bastam algumas bactérias para causar adoecimento", diz o FSA. Em geral, essas intoxicações passam depois de alguns dias, mas em crianças pequenas, idosos e pessoas que sofrem de doenças que prejudicam seu sistema imunológico, como Aids, a infecção pode ser fatal.

Em casos mais raros, pode haver complicações como hepatite, pancreatite e síndrome de Guillain-Barré, na qual a infecção leva o sistema imunológico a atacar o sistema nervoso, causando paralisias.

O FSA lembra também que armazenar bem frango cru é importante: "Cubra o frango e guarde-o na parte inferior da geladeira, para impedir que gotas de seu líquido caiam em outros alimentos, contaminando-os".

segunda-feira, 2 de setembro de 2019

Biossensor brasileiro avisa se alimentos estão contaminados por bactérias como a Salmonella e Staphylococcus


 A OMS (Organização Mundial da Saúde) informou que todos os anos 10% da população mundial contrai algum tipo de doença transmitida por alimentos contaminados. Anualmente chegam a 420 mil o número de mortes por essas doenças, sendo crianças, menores de cinco anos, um terço das vítimas mais fatais. A maioria das enfermidades é causada por bactérias como a Staphylococcus aureus que é encontrada em diferentes ambientes e pode causar doenças como conjuntivite, meningite e pneumonia.Essas bactérias podem estar presentes em qualquer tipo de ambiente onde as condições de esterilização não sejam rigorosas, como no caso de alimentos manipulados de forma inadequada, como na indústria ou em supermercados; além de outras bactérias como a Salmonella spp. e a Escherichia coli.
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Fonte: Martin Oeggerli, com o apoio da Escola de Ciências da Vida, FHNW







Pensando nisso um grupo de pesquisadores brasileiros coordenado pelo físico Osvaldo Novais de Oliveira Junior, do Instituto de Física da USP de São Carlos, desenvolveram um biossensor que usa nanopartículas magnéticas que são recobertas com melitina, uma substância extraída do veneno do ferrão de abelhas, para detectar contaminação em comidas e bebidas de forma muito mais rápida e eficiente que os métodos tradicionais. Segundo o físico, uma das maiores dificuldades para evitar as doenças transmitidas por alimentos é detectar as bactérias no início da contaminação, quando o número delas ainda é muito pequeno. "Nossa metodologia resolve o problema de detecção da contaminação inicial com uma estratégia de pré-concentração das bactérias na amostra."
Resultado de imagem para biossensor brasileiro da usp sao carlos
Fonte:https://www.bbc.com/portuguese/geral-46920021

O sensor propriamente dito é bastante simples. Ele contém eletrodos de prata, depositados sobre filmes de um plástico, PET, com uma técnica de serigrafia. A tinta do metal é espalhada sobre o polímero usando uma máquina produzida no Brasil com uma tela de poliéster. Outro ingrediente importante é a pré-concentração das amostras, que é feito para resolver a dificuldade da detecção de pequenas concentrações de microrganismos.
Com essa tecnologia desenvolvida em São Carlos as nanopartículas são introduzidas em uma amostra líquida a ser analisada. As bactérias presentes se dirigem a elas devido à presença da melitina. Após cerca de 20 minutos as nanopartículas magnéticas, com os microrganismos aderidos, são atraídas com um imã. Este é o material com bactérias pré-concentradas que é usada para detecção.

Oliveira ainda cita uma série de vantagens da tecnologia:- Menor tempo requerido para a análise, pois são eliminadas as etapas de cultivo das bactérias;- Possível baixo custo de cada análise, pois os eletrodos são muito baratos (cerca de R$0,30 cada);- Simplicidade na realização das medidas de detecção, mesmo para pequenas concentrações de bactérias, o que pode ser feito por não especialistas em análises (outra possível vantagem).
Além disso, o biossensor criado em São Carlos poderá ter outras aplicação, sendo possível usá-lo para detectar diferentes tipos de contaminação em ambientes hospitalares, como enfermarias e salas de cirurgia, bem como em instrumentos e equipamentos utilizados nesses ambientes, e também em pacientes com feridas, queimaduras e escaras.



Fonte: https://www.google.com/amp/s/g1.globo.com/google/amp/ciencia-e-saude/noticia/2019/01/18/biossensor-brasileiro-avisa-se-alimentos-estao-contaminados-por-bacterias-como-a-salmonella.ghtml