domingo, 30 de janeiro de 2022

Polinização e a produção de alimentos

 

Abelha Mandaçaia em uma visita floral (Melipona quadrifasciata).
Foto: Reprodução / http://www.abelhasjatai.com.br

   A polinização consiste na transferência de grãos de pólen dos órgãos masculinos para os femininos das flores e pode ocorrer através de fatores abióticos como vento e água, mas também por intermédio de animais polinizadores. É um fenômeno considerado como um tipo de serviço ecossistêmico, isto é, a partir  da interação ecológica planta-polinizador,  que provém benefícios às comunidades humanas. Sem tal interação, muitas espécies vegetais não seriam capazes de se reproduzir, portanto, não forneceriam frutos e sementes, que por sua vez representam a base da alimentação humana.    

    Dentre tais benefícios, vale destacar a manutenção da variabilidade genética das plantas nativas, que por sua vez compõem a biodiversidade local, o que resulta na promoção de mais tipos de serviços ecossistêmicos, como por exemplo, a regulação dos fatores climáticos e manutenção dos ciclos biogeoquímicos, como a manutenção dos lençóis freáticos. A variabilidade genética é fundamental para a evolução dos organismos vivos como um todo e com as plantas, não é diferente. A variabilidade genética é o que permite a sobrevivência de uma espécie vegetal frente à uma ameaça, como por exemplo doenças causadas por fungos, bactérias e predação por animais. Portanto, em um cenário sem diversidade genética, toda a população torna-se vulnerável.    

    Em termos de produção de alimentos, de acordo com a IPBES (Plataforma Intergovernamental sobre Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos), a partir do Relatório de Avaliação sobre Polinizadores, Polinização e Produção de Alimentos, a valoração econômica global da polinização para a produção agrícola foi estimada em um valor entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões. Somente no Brasil, a estimativa no ano de 2015 era de US$ 15 bilhões.

    Os agentes polinizadores são aqueles que visitam as flores e ao fazê-lo acabam por levar consigo, grãos de pólen, que posteriormente serão depositados nos estigmas de outras flores, em outra visita, o que resulta na fecundação da planta e formação do embrião, que por sua vez pode desenvolver-se em uma semente protegida por um fruto, até o momento em que esteja maduro para enfim originar outro indivíduo.

    Dentre os agentes polinizadores, destaca-se o grupo dos insetos, responsáveis pela grande maioria das interações registradas até então. Dentro dos insetos, as abelhas compõem o grupo mais robusto e representam cerca de 48% das espécies registradas e identificadas como visitantes das flores relacionadas à produção de alimentos. Além disso, as abelhas estão associadas a cerca de 92% das espécies cultivadas. Daí a relevância e urgência de proteção e manutenção das espécies de animais polinizadores, uma vez que 94% das plantas das comunidades tropicais dependem dos animais para a polinização.

    Dessa forma, é importante frisar que diversos fatores afetam as espécies polinizadoras, bem como a eficiência do processo de polinização, uma vez que sem eles, a perda da produção de alimentos será catastrófica.

    Além de fatores naturais como a baixa compatibilidade entre algumas espécies de plantas cujas flores demandam a visita de animais mais especializados para alcançarem/depositarem os grãos de pólen; existem também fatores ambientais que são modulados e impulsionados pela ação antrópica, como as mudanças climáticas, que podem tornar o ambiente desfavorável para a sobrevivência das espécies locais; o uso de agrotóxicos que acabam por causar a morte de inúmeros animais polinizadores, especialmente os insetos; a introdução de espécies exóticas, que podem competir por recursos com os agentes polinizadores bem como representar uma nova espécie predadora, provocando um desequilíbrio ecológico; alterações no uso da terra, como as monoculturas, que acabam por eliminar as espécies vegetais que muitas vezes servem como fonte de abrigo e alimentação para os polinizadores, o que prejudica as espécies dependentes de tais recursos.

    Tendo em vista que a manutenção dos serviços ecossistêmicos, em especial, da polinização é fundamental para a alimentação humana bem como de demais espécies, os impactos ambientais causados e impulsionados pela ação antrópica representam um risco concreto à nossa sobrevivência enquanto espécie, o que situa o ecocídio no horizonte de problemas a serem solucionados com grande urgência.

    
Referência bibliográfica

BPBES/REBIPP (2019): Relatório temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil. Marina Wolowski; Kayna Agostini; André Rodrigo Rech; Isabela Galarda Varassin; Márcia Maués; Leandro Freitas; Liedson Tavares Carneiro; Raquel de Oliveira Bueno; Hélder Consolaro; Luisa Carvalheiro; Antônio Mauro Saraiva; Cláudia Inês da Silva. Maíra C. G. Padgurschi (Org.). 1ª edição, São Carlos, SP: Editora Cubo. 184 páginas. http://doi.org/10.4322/978-85-60064-83-0


    

segunda-feira, 24 de janeiro de 2022

Brasil recordista na compra de agrotóxicos propõe nova PL ainda mais facilidades

 Os agrotóxicos consistem em produtos cujo uso pode ser voltado tanto para atividades agrícolas como não agrícolas, consistem geralmente em químicos sintéticos voltados a exterminar insetos, larvas, fungos, carrapatos, visando primordialmente o controle dessas pragas permitindo controlar doenças e aumentar a produtividade das lavouras, seu uso, porém está longe de ser algo tão positivo e livre de riscos como alguns julgam levianamente.


Fonte: Google.

A exposição a estes produtos gera inúmeros prejuízos no ponto de vista ambiental, por exemplo, há a contaminação dos solos, águas e mananciais, enquanto do ponto de vista humano, há riscos ocupacionais daqueles que se expõe durante o trabalho nas lavouras, mas também há a contaminação pelo produto final, ou seja, ao consumir o alimento, consumimos esses venenos por associação.

Estima-se pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) que os agrotóxicos gerem anualmente mais de 70 mil intoxicações agudas e crônicas que acabam por levar a óbitos, fato que se torna ainda mais perceptível em países em desenvolvimento, imaginemos então o Brasil que é campeão na compra de tais produtos desde 2008, e que ainda no ano de 2021 encerrou com 562 agrotóxicos liberados, dos quais 33 eram inéditos, o número só tem crescido desde 2016 como demonstrado pelo infográfico abaixo.



É importante frisar ainda que uma parcela significativa destes produtos tem sua venda proibida em países como os EUA, e pela União Europeia, por levar em conta os riscos já citados acima.

Em meio a situação já citada, o descontrole na liberação de tais produtos por pressão especialmente da bancada ruralista, passa por cima de questões ambientais e até mesmo da própria saúde pública, neste contexto há ainda um projeto de lei (PL 4.316/2021) que faria com que houvesse a dispensa de registro para a importação de agrotóxicos oriundos de demais países do Mercosul, sendo que muitos desses insumos não são aprovados pelo Ministério da Agricultura, a justificativa dada para a PL segundo Heinze é de "A situação, que é classificada como crise de insumos, embora tenha contornos mundiais, não está afetando igualmente todos os países. Algumas empresas instaladas em outros países podem ter estoques maiores ou mesmo ter como fornecedor de matéria-prima empresas instaladas em países que não reduziram a produção e está entregando regularmente a matéria-prima” (Fonte: Agência Senado).

Desta maneira é necessário que estejamos ainda mais vigilantes em se tratando de um tema tão sério e com consequências tão drásticas, haja vista que há alternativas viáveis como a agroecologia, que tem como princípios fundamentais a solidariedade, sustentabilidade, preservação da biodiversidade, equidade, justiça social e ambiental, mas principalmente a segurança alimentar.


 

Referências Bibliográficas

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Monografias autorizadas. Brasília, DF: ANVISA, 2018.

AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA (Brasil). Regulamenta­ção. Anvisa aprova novo marco regulatório para agrotóxicos. Brasília, DF: ANVISA, 2019.

CARNEIRO, F. F. et al. Segurança Alimentar e nutricional e saúde. Parte 1. In CARNEIRO, Fernando Ferreira et al. (org.) Dossiê ABRASCO: um alerta sobre os impactos dos agrotóxicos na saúde. Rio de Janeiro: EPSJV; São Paulo: Expressão Popular, 2015. Disponível em: Acesso: 15 ago. 2017.

CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION. Fourth national report on human exposure to environmental chemicals. Atlanta, GA: Centers for Disease Control and Prevention, 2009.

Proposta de Heinze dispensa registro a agrotóxicos importados do Mercosul acesso disponível em: https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2022/01/17/proposta-de-heinze-dispensa-registro-a-agrotoxicos-importados-do-mercosul

Após novo recorde, Brasil encerra 2021 com 562 liberados, sendo 33 inéditos acesso disponível em: https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2022/01/18/apos-novo-recorde-brasil-encerra-2021-com-562-agrotoxicos-liberados-sendo-33-ineditos.ghtml

quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

ATIVIDADE ANTIMICROBIANA DOS ÓLEOS ESSENCIAIS: CONSERVAÇÃO DE ALIMENTOS.

Os óleos essenciais são considerados os agentes antimicrobianos mais importantes presentes em plantas, eles podem também apresentar atividade antioxidante e anti-inflamatória. Deste modo são uma importante fonte de compostos bioativos antimicrobianos e antioxidantes.

A International Standart Organization (ISO) define os óleos essenciais como: “Produtos obtidos de partes de plantas por meio de destilação. Estes óleos essenciais são líquidos hidrofóbicos de compostos aromáticos que são voláteis e oleosos e estão presentes em várias partes da planta, como galho, flor, folha, casca, semente e raiz. Os óleos essenciais têm frequentemente um odor agradável e por vezes um sabor característico. Tipicamente, são misturas altamente complexas, geralmente de centenas de compostos aromáticos individuais.”


Fonte: Google.

A ação mais importante do seu uso em alimentos é sua atividade antibacteriana frente a vários patógenos alimentares e sua oxidação lipídica. O uso de óleos essenciais em alimentos vem sendo muito estudado como uma possibilidade de substituição de conservantes químicos por aditivos alimentares naturais, objetivando aumentar o prazo de validade dos produtos priorizando a saúde do consumidor.

Estudos da atividade antibacteriana de óleos essenciais frente à patógenos de origem alimentar tem sido realizado, principalmente, in vitro e recentemente pela aplicação simultânea da bactéria e de óleos essenciais em produtos alimentícios.

Os óleos essenciais reconhecidos como seguros pela Food and Drug Administration (FDA) são:  Alecrim (Rosmarinus officinalis); Bergamota (Citrus bergamia); Baga de zimbro (Juniperus communis); Cassia (Cinnamomum cassia); Cal (Citrus aurantifolia); Camomila Romana (Anthemis nobilis); Canela (Cinnamomum zeylanicum); Cravo-da-Índia (Eugenia caryophyllata); Coentro (Coriandrum sativum) ; Cominho (Cuminum cyminum); Erva- cidreira (Cymbopogon flexuosus ); Erva-doce (Foeniculum vulgare); Gerânio (Pelargonium graveolens); Gengibre (Zingiber officinale); Hortelã-pimenta (Mentha piperita); Hortelã (Mentha spicata); Laranja azeda (Citrus aurantium); Laranja Selvagem (Citrus sinensis); Limão (Citrus limon); Manjericão (Ocimum basilicum); Manjerona (Origanum majorana); Melissa (Melissa officinalis); Orégano (Origanum vulgare); Pimenta preta (Piper nigrum); Sálvia (Salvia sclarea); Tangerina (Citrus reticulado); Toranja (Citrusparadisi ); Tomilho (Thymus vulgaris); Ylang Ylang (Cananga odorata).

Uma grande variedade de óleos essenciais têm sido aplicados em diversos materiais de embalagens de alimentos e filmes de revestimento como antimicrobianos e antioxidantes, mas também são usados diretamente no alimento, como por exemplo  nanoemulsões e nanoencapsulados.

 

REFERÊNCIAS:

CALO, Juliany Rivera et al. Essential oils as antimicrobials in food systems–A review. Food Control, v. 54, p. 111-119, 2015.

VALERIANO, C. et al. Atividade antimicrobiana de óleos essenciais em bactérias patogênicas de origem alimentar. Rev. Bras. Pl. Med., Botucatu, v.14, n.1, p.57-67, 2012.

https://foodsafetybrazil.org/os-oleos-essenciais-sao-o-futuro-da-conservacao-de-alimentos/

sábado, 8 de janeiro de 2022

A prática do “high meat”

 É do conhecimento de todos que o consumo de alimentos estragados e vencidos não deve acontecer, devido aos diversos problemas de saúde que eles podem causar. Um alimento guardado na geladeira, fora das condições ideais de armazenamento, pode desenvolver diversos tipos de microrganismos, como fungos e bactérias. Além de intoxicações alimentares que causam desidratação, diarreias e vômitos, que são as formas mais leves, esse consumo também pode levar a problemas graves no estômago e intestino, dependendo do microrganismo que for ingerido.


Fonte: Google.

Há algum tempo a página famosa do Facebook, “Fatos Desconhecidos”, fez uma publicação falando sobre uma nova prática que está repercutindo entre os jovens de diversos locais do mundo, que consiste em comer carne estragada para ficarem “chapados”.

Fonte: Google.

Nessa prática do “high meat”, os jovens deixam os pedaços de carne por semanas e até meses na geladeira, para que haja grande proliferação de microrganismos, esses que serão os causadores do efeito alucinógeno que o consumo do alimento causará.

O grande problema desse consumo está no fato de que o estômago humano não está preparado para o consumo de bactérias e fungos desenvolvidos por tanto tempo, geralmente 2 meses, e isso pode causar grandes infecções no organismo de quem pratica essa brincadeira.

 

Referências: 

https://acrediteounao.com/carne-estragada-drogas/

https://mundodocurioso.com.br/high-meat-pratica-bizarra-para-ficar-chapado/

https://istoe.com.br/jovens-se-desafiam-na-internet-a-comerem-carne-podre-para-ficarem-chapados/


quinta-feira, 6 de janeiro de 2022

Microencapsulados: Tecnologia na Produção de Alimentos

 A microencapsulação é uma técnica relativamente recente e trata-se de um processo físico-químico de empacotamento de amostras sólidas, líquidas ou gasosas, que paralisa e preserva os microrganismos em um material encapsulante, formando partículas com diâmetro pequeno, de nanômetros a poucos milímetros, que são capazes de manter sua estrutura mesmo sob as condições adversas do meio, sendo dissolvidas e liberando o material encapsulado no sítio de ação adequado para exercer a função desejada.

É utilizada como meio eficaz de criar alimentos que não sejam apenas uma fonte de nutrientes com apelo sensorial, mas também uma fonte de bem-estar e saúde para os indivíduos. Dentro da indústria alimentícia, essa técnica tem solucionado limitações no emprego de ingredientes, visto que pode suprimir ou atenuar flavors indesejáveis, reduzir a volatilidade e a reatividade e aumentar a estabilidade destes em condições ambientais adversas, como na presença de luz, oxigênio e pH extremos.

Onde a substância encapsulada pode ser chamada de material de núcleo, agente ativo, material de preenchimento, fase interna ou fase de carga. O material utilizado para encapsular os alimentos pode ser nomeado como revestimento, cobertura, membrana, casca, material de parede, fase externa ou matriz, normalmente descrito como material polimérico.


Fonte: Google

Tendo como a parte mais crítica do processo a escolha do material encapsulante, sendo um dos fatores que influenciam na estabilidade do mesmo, sendo os fatores desejáveis: material seja de fácil dissolução, solúvel em água, sabor suave, baixo custo, boa capacidade de emulsificação, propriedades de estabilização das gotas, solução de baixa viscosidade em alta quantidade de sólidos dissolvidos, excelente formador de filme e de fácil secagem, baixa higroscopicidade. Nenhum material possui todas estas propriedades, por isso são utilizadas blendas de matérias com o objetivo de aumentar a eficiência da encapsulação.

Alguns encapsulantes aprovados para utilização na indústria alimentícia para produção de microcápsulas incluem ácidos graxos, alginatos, amidos, carragenas, caseinatos, celulose, ceras comestíveis, dextrinas, gelatina, goma xantana, gorduras, lipídios, pectinas, polietilenoglicol e quitosana.

Algumas das técnicas que são utilizadas nesse processo são spray drying, spray cooling, coacervação, extrusão, extrusão centrífuga, recobrimento em leito fluidizado, lipossomas e complexação por inclusão. A diferença existente entre os métodos está no tipo de envolvimento ou aprisionamento do material ativo pelo agente encapsulante, visto que a combinação entre o material e o agente ativo pode ser de natureza física, química ou físico-química.

Para curiosidade, iremos abordar uma técnica para o conhecimento: Na técnica de spray drying o material que irá ser encapsulado é misturado a uma solução do composto que constitui o material encapsulante, originando uma emulsão. Ao ser atomizado dentro do secador, ocorre a evaporação do líquido da solução do agente encapsulante com a formação da membrana ao redor das gotas do material ativo.

Sendo assim, a tecnologia de encapsulação está em constante evolução e possui variadas aplicações, tanto na indústria de alimentos, como em indústrias farmacêuticas, cosméticos, agrotóxicos, tintas, entre outras. E é de competência às indústrias e pesquisadores se manterem atualizados tanto na questão de novos materiais, como também nas técnicas empregadas, que transformam as mais inusitadas ideias em produtos de alto valor agregado, que chegam à mesa dos consumidores na forma de alimentos que sejam fonte de bem estar e saúde.

 

REFERÊNCIAS:

A TECNOLOGIA DA MICROENCAPSULAÇÃO DE INGREDIENTES. VER FOOD INGREDIENTS BRASIL Nº 42 – 2017. Disponível em: < https://revista-fi.com.br/upload_arquivos/201712/2017120668704001512498483.pdf >

SIMEONI, P, C et al. MICROENCAPSULAÇÃO DE PROBIÓTICOS: INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA INDÚSTRIA DE ALIMENTOS. REGET -v. 18. Ed. Especial Mai. 2014, p. 66-75. Disponível em: < https://pdfs.semanticscholar.org/6848/4c047516f233fa30fb29de1aef0416150eb5.pdf >