quarta-feira, 19 de maio de 2021

Carne in vitro: seria este o futuro na produção de carnes?


FONTE: BeefPoint


Nas últimas décadas a produção de carne vem enfrentando alguns desafios, como o impacto ambiental, aumento na emissão de gases do efeito estufa (metano, dióxido de carbono e óxido nítrico) e a crescente pressão popular sobre o bem-estar animal. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estima-se que a população mundial atinja a marca de 9 bilhões de pessoas em 2050, o que pode ocasionar em um aumento de até 73% na demanda mundial por carne. Com base em tais fatos, surge-se a necessidade de buscar tecnologias alternativas para aumentar a produção de proteínas de origem animal.


A carne artificial, carne de laboratório, carne in vitro ou também denominada de carne sintética, está cada vez mais perto de chegar aos mercados. Atualmente dezenas de empresas estão investindo no desenvolvimento deste tipo de carne, porém ainda é preciso resolver alguns problemas para que seja viável, como  tornar o produto atraente para o consumidor e verdadeiramente sustentável.


A produção de bacon desenvolvido pela Universidade de Bath na Inglaterra e de hambúrgueres pela Universidade de Maastricht na Holanda são alguns dos exemplos de projetos em andamento. Em estágio mais avançado tem-se os nuggets de frango in vitro produzidos pela startup americana Eat Just, que em dezembro de  2020 conseguiu autorização da Agência Alimentar de Singapura para a sua comercialização.


COMO É PRODUZIDA?


FONTE: Mosa Meat

Primeiramente através de biópsia é feita a retirada de células animais, em seguida são coletadas células-tronco musculares e colocadas em meio de cultura contendo fatores de crescimento e nutrientes para favorecer a multiplicação das células. Com o uso de reatores biológicos o crescimento é acelerado até que haja a aglutinação dessas células formando pequenos filamentos. Microtransportadores são introduzidos nas células cultivadas para que estas se desenvolvam em fibras musculares específicas e mais largas. 


Posteriormente as fibras formadas são unidas e misturadas a aditivos para adquirir consistência, sabor e cor característica, formando assim um pedaço de carne artificial. Todo o processo leva cerca de 21 dias.


A adição de aditivos é essencial para que haja adesão do consumidor. A carne in vitro possui coloração amarelada pela ausência de mioglobina, sendo feito o uso de corantes naturais como açafrão, caramelo e suco de beterraba. Já com relação a sabor e textura é preciso que outras células como de gordura e colágeno sejam desenvolvidas para que a complexidade da carne natural seja reproduzida.


Entenda melhor sobre o processo de produção no vídeo abaixo:




VANTAGENS


  • Atualmente a pecuária é responsável pela emissão de 14,5% de todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) segundo a FAO, sendo 65% destes advindo da criação de gado bovino. Em tese, a carne produzida em laboratório seria uma alternativa mais sustentável;

  • De acordo com estudo realizado pela Universidade de Oxford juntamente com a Universidade de Amsterdam, a produção de carne em laboratório representa uma redução de 82-96% no consumo de água comparada a produção convencional;

  • Embora alguns pesquisadores veem com desconfiança a não utilização de hormônios para a produção, as empresas envolvidas afirmam que seu uso não é necessário;

  • A carne in vitro evitaria os maus-tratos e o abate aos animais, uma vez que a indústria da carne frequentemente é alvo de denúncias por crueldade animal.


DESVANTAGENS


  • Com o alto custo de produção, a carne de laboratório ainda não é considerada economicamente viável, um exemplo é o nuggets de frango produzido pela Eat Just que foi anunciada inicialmente com um custo de US$50 por unidade. Porém a tendência é que o custo diminua conforme as pesquisas avancem e a produção aumente de escala;

  • Estudo da Universidade de Oxford aponta que a longo prazo a produção de carne artificial traria maior prejuízo ao meio ambiente do que a partir do gado. Isso seria devido ao gás metano, que mesmo tendo um impacto climático maior que o dióxido de carbono, ele não acumulativo ao longo do tempo, ficando por cerca de 12 anos na atmosfera, enquanto que o dióxido de carbono (emitido na produção da carne artificial) persiste por milênios;

  • A realização de biópsia nos animais para obtenção da células-tronco é alvo de debate pela comunidade vegana, que argumentam que o produto segue baseado em exploração animal;

  • Criação de subprodutos químicos prejudiciais ao meio ambiente;

  • Devido a alta taxa de replicação celular o desenvolvimento de células cancerígenas é favorecido.


A demanda por produtos alternativos a carne vem crescendo nos últimos anos, e a carne artificial tem se mostrado uma opção interessante nesse âmbito. Porém ainda há muitas discussões sobre se a carne artificial seria realmente saudável e sustentável, além de questões a serem trabalhadas como a aceitação do público e a certificação de segurança desse tipo de alimento.



REFERÊNCIAS:


Artigo: Carnes para o futuro: carne orgânica x carne artificial, uma revisão (UFMS)

O que é carne artificial? (ecycle.com.br)

Carne artificial: os cientistas britânicos que estão criando bacon em laboratório | Ciência e Saúde | G1 (globo.com)

Carne de laboratório é o futuro da alimentação? Entenda prós e contras - UOL ECOA

Carne artificial de frango é vendida pela 1ª vez no mundo em Cingapura - UOL Notícias

Carne cultivada em laboratório: o futuro da produção de carne? - Scot Consultoria

Vista do Carne artificial (unicamp.br)

Environmental Impacts of Cultured Meat Production | Environmental Science & Technology (acs.org)

Revista Galileu - NOTÍCIAS - A gordura é o próximo passo, diz criador da carne de laboratório (globo.com)

Bife de laboratório : Revista Pesquisa Fapesp


domingo, 16 de maio de 2021

Contaminação cruzada em serviços de alimentação e indústrias de alimentos

A Contaminação Cruzada é uma das principais causas das Doenças Transmitidas por Alimentos (DTAs), colocando em risco a saúde e a vida dos consumidores, podendo ocorrer de forma grave, principalmente em idosos, crianças, gestantes e indivíduos imunossuprimidos. 

É definida como a transferência direta ou indireta de micro-organismos patogênicos (que podem causar doenças) desde um produto contaminado a um produto não contaminado. Essa transferência é baseada em uma fonte de contaminação, sendo as formas mais comuns através de manipuladores, utensílios e equipamentos. Ou seja, a contaminação por equipamentos e utensílios utilizados no preparo de um alimento contaminado, que sem o devido processo de higienização e desinfecção, são utilizados no preparo de outros alimentos, de origem ou estado diferentes (cru e cozido). Podendo ocorrer em várias etapas do processo de produção ou manipulação de alimentos.
Fonte: Google. 

Existem dois tipos de contaminação cruzada, a direta e a indireta. A contaminação direta ocorre de alimento para alimento; já a contaminação indireta ocorre por meio do contato com um utensílio ou uma superfície contaminada por algum alimento. 

A contaminação cruzada é de grande preocupação para as indústrias de alimentos e para o sistema de saúde pública, já que é uma das principais causas de ocorrência de surtos de doenças de origem alimentar. Deste modo, as indústrias de alimentos precisam seguir várias medidas exigidas por órgãos reguladores, como a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), com o intuito de evitar a contaminação alimentar. 

É de extrema importância a implantação das Boas Práticas de Higiene e Boas Práticas de Fabricação em uma indústria alimentícia, evitado assim a contaminação através da higienização correta das mãos dos manipuladores; dos alimentos; utensílios e equipamentos. Sendo necessário também um adequado processo de armazenamento dos alimentos, com a separação dos alimentos de origens diferentes (crus dos cozidos) e dando a devida atenção a fatores como a umidade e temperatura do local, que podem provocar a contaminação dos produtos.
Fonte: Google. 

Para evitar a multiplicação de agentes patogênicos é necessário o controle da temperatura dos alimentos armazenados. Deste modo, é preciso manter uma temperatura abaixo de 5°C para os produtos refrigerados, já os itens congelados devem permanecer em ambiente com temperatura inferior a -18°C.

É essencial adotar treinamentos com a equipe, garantindo assim uma correta manipulação dos alimentos, para que os produtos cheguem aos consumidores em condições próprias para consumo. Evitando assim, risco a saúde dos consumidores, além de desperdícios e prejuízos financeiros. 

Alguns tipos de falhas no processo que resultam na contaminação cruzada: 

• Falta de higienização das mãos dos manipuladores entre as manipulações 
• Utilização dos mesmos utensílios, como facas e tábuas, para a manipulação de alimentos crus e cozidos sem a correta higienização. 
• Manipular alimentos de origens diferentes na mesma bancada ao mesmo tempo. 
 • Armazenar alimentos de origens diferentes no mesmo vasilhame, ou no mesmo refrigerador sem as devidas separações. 
• Colocar alimentos crus ou cozidos em equipamentos sujos. 
• Manipular o lixo e não higienizar as mãos para manipular os alimentos. 
• Manipular dinheiro higienizar as mãos para manipular os alimentos. 


Referências Bibliográficas: 

https://consultoradealimentos.com.br/seguranca-alimentar/contaminacao-cruzada http://blogdasegurancaalimentar.volkdobrasil.com.br/contaminacao-cruzada-na-industria-de-alimentos/ http://www.posalimentos.ufv.br/wp-content/uploads/2015/05/Resumen-Semin%C3%A1rio-Angie-D.-Duque-R..pdf

quinta-feira, 13 de maio de 2021

Alimentos integrais: Relação com a microbiota e RDC 493/2021


 

É de conhecimento comum que nossos hábitos alimentares afetam diretamente nossa saúde, porém uma descoberta relativamente recente é de que a microbiota, que nada mais é do que os microrganismos (como bactérias), não apenas colabora para a digestão e obtenção de nutrientes, mas também tem importante papel na produção de hormônios e até na imunidade. 

A saúde e equilíbrio desta microbiota depende de diversos fatores como genética, uso de medicamentos, mas abordaremos mais especificamente sobre os alimentos ou componentes como as fibras. 


As fibras são componentes extremamente importantes, apesar de não serem digeridos por nosso organismo servem como alimento para diversas bactérias benéficas de nossa microbiota. Além de atuar na saúde intestinal garantindo um melhor fluxo e consequentemente regularidade em relação as evacuações, atua também no controle do apetite. 


As fibras se dividem em dois principais tipos: solúveis, atuam absorvendo água e produzindo uma espécie de gelatina, que atua na absorção de nutrientes, enquanto o segundo tipo, as chamadas insolúveis, não sofrem qualquer modificação atuando na fluidez já citada acima. 


Diversos alimentos contêm fibras, como é o caso dos alimentos integrais, compostos essencialmente por cereais como trigo, aveia, arroz, chia e linhaça. 


O cerais diferentemente dos alimentos processados possuem a integralidade das partes dos cerais, sendo elas o gérmen, farelo e endosperma (este último é onde se encontra o amido, sendo utilizado apenas esta parte nos processados). 


Os alimentos integrais apresentam ainda além dos benefícios a microbiota diversos outros como: redução dos colesteróis, reduz níveis de açúcar no sangue, efeito protetivo nos dentes. ajudando no higiene bucal, atuam como fator preventivo em diversas patologias.


Tantos benefícios por sua vez levam a uma maior procura e adesão destes por parte da população, desta maneira torna-se necessário que haja normas relativas a tais produtos, neste contexto a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) publicou uma nova resolução a RDC 493/2021, na qual fica estabelecido regras quanto a classificação dos alimentos à base de cerais, como os integrais ou do destaque para a sua presença no alimento. 


Sendo assim, de acordo com a nova RDC para que o alimento seja classificado como integral, deverá apresentar no mínimo 30% de ingredientes integrais e ainda a quantidade de ingredientes integrais contidos na fórmula deve ser mais do que a proporção dos refinados, e a palavra integral poderá ser posta no rótulo, desde que haja o percentual de cada ingrediente integral composto na fórmula, tais regras devem chegar aos mercados até abril de 2022.  

 

 

Referências