segunda-feira, 29 de abril de 2019

Campylobacter spp


 Campylobacter spp



Os microrganismos do gênero Campylobacter são Gram-negativos e têm como características marcantes a forma de bacilos curvos, espiralados, muito finos e compridos, apresentam um flagelo que permite sua movimentação rápida e na forma de saca-rolha. Não são formadores de esporos, mas chegam a apresentar morfologia cocoide em culturas envelhecidas. Existem diversas espécies características desse gênero, sendo que grande parte delas é positiva para enzima citocromo-oxidase e redutoras de nitrato.
Dentro dessas espécies a principal causadora de gastroenterites é a Campylobacter jejuni, seguida da C. coli e a C. lari (estas últimas só podem ser diferenciadas por meio de testes bioquímicos). Essas três espécies citadas são caracterizadas também por serem bactérias termofílicas, pois crescem em uma faixa estreita de temperatura (30-47°C). Outras características marcantes do gênero Campylobacter são a microaerofilia (necessidade de baixos níveis de oxigênio para multiplicação), capnofilia (necessidade de cerca de 10% de CO2 para multiplicação) e sensibilidade a pH ácido e a desidratação.
Esses microrganismos são responsáveis por causar gastroenterites alimentares e a campilobacteriose, enterocolite considerada uma zoonose de distribuição mundial, sendo a mais importante e comum causa de doenças diarreicas em humanos.

Descrição da doença: Campilobacteriose são infecções agudas causadas por algumas espécies do gênero Campylobacter que acometem o homem através da ingestão de alimentos e líquidos contaminados, a doença se apresenta com um quadro de diarreia, febre, náusea, dor de cabeça, dor muscular e dores abdominais. As bactérias se fixam à mucosa da porção terminal do intestino delgado, íleo e se multiplicam, produzindo uma enterotoxina citotóxica, o que provoca diarreia aquosa, se a invasão acometer o intestino grosso e reto a diarreia pode vir acompanhada de sangue. As infecções sintomáticas geralmente são autolimitantes. A enfermidade pode levar a um quadro mais preocupante e prolongado com características parecidas com a salmonelose ou shigelose. As complicações mais graves podem incluir artrite reativa, colicistite aguda, pancreatite, bacteremia (principalmente em hospedeiros imunocomprometidos) e síndrome de Guillain-Barré – GBS (distúrbio autoimune do sistema nervoso periférico).

Período de Incubação: Os sintomas costumam aparecer geralmente de 2 a 7 dias após a ingestão do alimento contaminado, sendo doses infectantes da ordem de 500 microrganismos. A persistência da diarreia pode durar cerca de uma semana.

Agente Etiológico: Campylobacter jejuni é a bactéria que causa a maior parte dos casos de diarreia, sendo a principal espécie associada às Doenças de Transmissão Alimentar – DTA. É mais virulenta por conta de sua maior resistência a fagocitose. A Campylobacter coli produz uma diarreia mais branda. Ambos são considerados comensais do trato intestinal de um vasto grupo de animais, principalmente as aves de criação. A Campylobacter lari tem como características diferenciadas a sua resistência natural ao ácido nalidíxico e a reação negativa na prova de hidrólise do substrato indoxil – acetato.

Reservatório: Os microrganismos são comensais do trato gastrointestinal de bovinos, suínos, ovinos, felinos, cães, roedores, aves domésticas e pássaros (portadores naturais de Campylobacter, porém não desenvolvem o quadro clínico da infecção).

Epidemiologia: C. jejuni é uma das principais causas de enterite bacteriana esporádica nos Estados Unidos, segundo o CDC (Centers for Disease Control and Prevention) e no Brasil também é comumente relacionado com as causas de gastroenterite aguda e crônica. A esporadicidade da infecção pelo microrganismo indica uma maior ocorrência nos meses de verão e inicio do outono. As infecções acometem principalmente as crianças.  

Modo de transmissão: A transmissão é feita através da ingestão de água e alimentos contaminados, podendo estes ser atingidos por contaminação cruzada ou manipulação inadequada dos profissionais. Além do contato com pessoas e animais infectados.

Alimentos mais vulneráveis: Leite cru ou insuficientemente pasteurizado é o alimento apontado com mais frequência como responsável pelos surtos de campilobacteriose. Além de carnes de origem bovina, suína, aves (uma das principais fontes de contaminação) e água não tratada.

Diagnóstico e tratamento: O diagnóstico é feito geralmente em cultura de amostras de fezes (para verificar a presença de bactérias), as vezes cultura de amostras de sangue (em casos de suspeita de infecção na corrente sanguínea). O tratamento vai depender da gravidade de cada caso, sendo o uso de antibióticos como a azitromicina (durante 3 dias) e eritromicina (durante 5 dias)  recomendado para as formas mais graves. As espécies C. jejuni e C. coli são sensíveis a uma variedade de agentes antimicrobianos, inclusive macrolídeos, fluoroquinolonas, aminoglicosídeos, cloranfenicol e tetraciclina.

Prevenção: Uma medida essencial é o controle da qualidade da água, principalmente as utilizadas durante o preparo dos alimentos. A superfície onde os alimentos são colocados e os materiais utilizados devem ser devidamente desinfetados e limpos. É necessário um cuidado com a contaminação cruzada e a temperatura de armazenamento dos alimentos. Evitar o consumo de alimentos crus e mal cozidos.

Referências:


segunda-feira, 15 de abril de 2019

Novas instruções para a produção de leite são anunciadas pelo Mapa



Em novembro de 2018 o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) anunciou novas diretrizes  para a produção de leite no Brasil, especificando a qualidade e os padrões de identidade para o leite cru refrigerado, do pasteurizado e do tipo A. Os novos critérios englobam desde a organização da propriedade até a formação e capacitação dos responsáveis pelas tarefas cotidianas.
  • Sobre o que as instruções falam?


As novas Instruções Normativas (INs) permitirão que os produtores intensifiquem o controle na obtenção do leite, adotando boa gestão de qualidade em suas propriedades como manejo sanitário, estocagem, uso racional de medicamentos veterinários, entre outros. A Rede Brasileira de Laboratórios de Qualidade do Leite (RBQL) também oferecerá, junto ao Mapa, capacitação para os responsáveis pela captação nos estabelecimentos industriais, com o objetivo de se obter uma contagem bacteriana baixa e aumento do rendimento industrial, assim como a qualidade do produto e outros que derivem dele. É obrigatório que toda indústria de leite envie amostras para um dos laboratórios credenciados pela RBQL. Com auxílio da Coopavel, serão coletadas amostras uma vez por mês dos associados sem custo algum para o produtor, visando garantir a qualidade do produto.
A contagem bacteriana para o leite cru refrigerado continua com a máxima de 300 mil unidades por 500 mil células somáticas por mL. Agentes inibidores do crescimento microbiano ou qualquer substância estranha à composição do produto é proibida. Não apenas a qualidade microbiológica ganha maior atenção com as IN's, como as condições dos animais leiteiros, que está instrinsicamente ligado à qualidade final do produto. Transporte e armazenamento também são listados.


  • Quais as consequências para quem não seguir as novas normas?

Para os produtos que apresentarem contagem bacteriana superior à 300 mil por três meses consecutivos, o produtor não poderá mais comercializar o leite.

As mudanças visam não apenas a melhora na qualidade do leite, mas também o aumento da oferta de produtos mais seguros e de maior rendimento para a população. Abaixo pode-se verificar as novas resoluções por completo.






Referências

segunda-feira, 8 de abril de 2019

Vírus de Origem Alimentar

 Os vírus de origem alimentar é um problema muito comum na Saúde Pública e a sua causa mais reconhecida são os surtos de gastroenterite.
 A infecção humana pode ocorrer depois do consumo de alimentos contaminados, através dos manipuladores de alimentos devido a más práticas de higiene, consumo de produtos de origem animal contaminados com vírus (por exemplo, carne e peixe) e através do contato corporal, de pessoa para pessoa. Ultimamente esses surtos de doenças transmitidas por alimentos viral têm sido associados com o consumo de mariscos que foram colhidos de esgoto ou águas poluídas.
 A maioria das doenças víricas transmitidas por alimentos são causadas por poucos tipos de vírus, incluindo:
 Norovírus (a doença vírica transmitida por alimentos mais comum, que causa gastroenterite, uma condição médica caracterizada por diarreia, vômitos e dor abdominal);
 Hepatite A e E (que causa inflamação do fígado);
 
Rotavírus (particularmente associado a gastroenterite nas crianças).

 Os principais alimentos associados às doenças transmitidas por vírus incluem:
 Marisco (por exemplo, ostras e mexilhões) criado ou colhido de águas contaminadas por esgotos e seus produtos derivados;
 
Frutos e hortícolas cultivados em campos fertilizados com resíduos de origem animal ou irrigados com águas contaminadas;
 
Carnes mal cozinhadas, nomeadamente carne de porco.
 Característica de Sobrevivência:
 Vírus de origem alimentar são resistentes e podem sobreviver por longos períodos em alimentos ou no ambiente de manipulação de alimentos, bem como persistem em ambientes aquáticos. Eles são altamente resistentes à refrigeração, congelamento, conservantes e radiação ionizante. Vírus da hepatite A e norovírus ambos foram mostrados para sobreviver 60 ° C por 10 minutos. No entanto, a inativação desses vírus ocorre em temperaturas acima de 65 ° C a uma taxa proporcional à temperatura, mas também depende da composição do meio. Ambos os agentes são mortos pela fervura. Eles são resistentes a condições ácidas (pH 3) e pode, portanto, sobreviver com frutas ácidas, como morangos e framboesas e em processos como a decapagem em vinagre ou produção de iogurte. Eles também são resistentes ao álcool e as concentrações de açúcar. 
 Detecção:
 Detecção de vírus em alimentos não foi considerado possível em um laboratório de rotina por causa de sua exigência de um hospedeiro vivo ou tecido animal para o crescimento. Além disso, o nível de partículas do vírus em um alimento contaminado é geralmente muito baixa. Laboratórios especializados podem alcançar detecção utilizando cultura de células e métodos de extração complexo mas as técnicas anteriormente disponíveis não são adequados para aplicação rotineira e taxas de recuperação continuam pobres. O uso da reação em cadeia da polimerase (PCR) está sendo desenvolvido para a detecção de norovírus em alimentos implicados como fonte de surtos. Um método recente, disse que para dar resultados em menos de 4 horas, envolve-IMS recirculação ligada à PCR (papel de laboratório de ensaios inter-aguardando publicação). 
Métodos utilizados atualmente para a detecção de rotina de NLVs nas fezes são baseados em imunoensaios e PCR. Idealmente, as amostras devem ser coletadas até 48 horas após o início dos sintomas uma vez que estes contêm os maiores níveis do vírus. Utilização deste teste PCR permite a detecção de mais de 90% das infecções NLV e também permite a caracterização das cepas. 
Detecção de vírus da hepatite A nas fezes geralmente não é possível porque, pelo tempo icterícia ocorre, o pico de excreção de partículas do vírus já passou. Diagnóstico é baseado na detecção de anticorpos específicos IgM e IgG no soro de sangue ou saliva. 
 Surtos recentes de doenças víricas transmitidas por alimentos: Em 2008, na Europa, os crustáceos, os moluscos e os produtos derivados foram implicados em surtos de doenças víricas transmitidas por alimentos. Em 2013, um dos maiores problemas foram os surtos causados pelo vírus da hepatite A presente em morangos e bagas, que afetaram 315 indivíduos em 11 países europeus.

 Controle:
 Medidas de controle dependem principalmente de educação e pessoal de fábrica e higiene da cozinha; manipuladores de alimentos que sofrem de sintomas devem ser excluídas do trabalho imediatamente e todos os funcionários informados sobre a facilidade com que a contaminação viral é transmitida. O uso de água limpa para a irrigação de culturas que possam ser comidos crus e cultivo de moluscos no esgoto sem água do mar também são essenciais para evitar a contaminação viral de alimentos. 



Referências:
https://pt.dreamstime.com/imagens-de-stock-royalty-free-alimento-contaminado-image22901589

terça-feira, 2 de abril de 2019

Infecção Alimentar causada por Escherichia coli enteroinvasiva



                                                (Microscopia óptica de células de Escherichia coli após coloração de Gram)                                       

A bactéria Escherichia coli também tem forma de bacilo, é Gram-negativa, não-esporulada, anaeróbia facultativa e fermentadora de açúcares. Existem muitas estirpes de E. coli, desde formas comensais até formas patogênicas. O intestino da maioria dos animais de “sangue quente”, inclusive o homem, é colonizado por formas comensais de E. coli. Basicamente, existem quatro formas de E. coli que causam doenças gastrointestinais: enteropatogénica, enterotoxigénica, enterohemorrágica e a enteroinvasiva que será explicada em seguida.
     
 Escherichia coli enteroinvasiva

Descrição da doença – é uma doença inflamatória da mucosa intestinal e da submucosa causada por cepas EIEC (E. coli Entero Invasiva) com um quadro de diarréia líquida, dor abdominal severa, vômitos, tenesmo, cefaléia, febre, calafrios e mal-estar generalizado, semelhante ao produzido pela Shigella. Em seguida à ingestão da EIEC, os microrganismos invadem as células epiteliais do intestino, resultando em forma de disenteria leve, geralmente confundida com a causada por espécies de Shigella.

Agente etiológico - a E.coli faz parte da flora intestinal normal dos homens e outros primatas, sendo que uma minoria das suas cepas causa doenças por vários mecanismos diferentes. Entre essas, estão as cepas enteroinvasivas (EIEC), sendo os principais sorogrupos O28ac, O29, O112, O124, O136, O143, O144, O152, O164 e O167.

Período de incubação - a disenteria causada por EIEC geralmente ocorre em períodos curtos, entre 10 e 18 horas após a ingestão do alimento contaminado. A disenteria causada por esta bactéria é normalmente auto-limitante sem complicações. Contudo, uma seqüela comum associada a essa infecção, especialmente em crianças, é a síndrome hemolítica urêmica (SHU).

Reservatório - os seres humanos são o reservatório comum da doença.

Diagnóstico e tratamento - é necessário demonstrar a presença da bactéria em cultura de fezes de indivíduos infectados .Nos casos de diarréia extremamente severa utilizam-se os mesmos antimicrobianos que os para a Shigella.

Modo de transmissão - há evidências de que a transmissão é feita através de alimentos contaminados. Os alimentos que, normalmente, podem abrigar a EIEC são desconhecidos, mas qualquer alimento contaminado com fezes humanas de indivíduo doente, seja diretamente ou via água contaminada, pode causar doença em outras pessoas. Carnes mal cozidas, legumes, frutas,  leite não pasteurizado têm sido associados a surtos por EIEC.

Suscetibilidade e resistência - todas as pessoas estão sujeitas a essa infecção.

Medidas preventivas:
●Educação da população quanto às boas práticas de higiene pessoal com especial ênfase na lavagem rigorosa das mãos após o uso do banheiro;
● Lavar bem as frutas e verduras antes de consumi-las;
● Evite comer carnes mal passadas;
● Não consuma leites ou sucos em caixa que estejam fora da geladeira há muito tempo após abertos;
● Lave bem os talheres que foram usados para cortar alimentos crus para evitar a contaminação cruzada;
● Medidas de saneamento básico - sistema de água tratada e esgoto são essenciais para a redução das diarréias;