quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Alimentos ultraprocessados

   
Você já pensou sobre quais alimentos passam por processos industriais até chegarem à sua mesa? Diariamente, ao sair para as compras, pode-se perceber o fato de que somos consumidores de alimentos que sofreram algum tipo de processo industrial, desde o pacote de arroz até o sorvete. Por isso, existem classificações para os alimentos em graus de industrialização, em 2014 o Ministério da Saúde criou o Guia alimentar para a população brasileira baseado na classificação feita por Carlos Augusto Monteiro, e seu grupo de pesquisa da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP). 
    Dessa forma, os alimentos foram divididos de acordo com o nível de industrialização à qual foram submetidos, isto é, existem os alimentos in natura ou minimamente processados que correspondem àqueles que advém de plantas e animais, como frutas, legumes, grãos, leite, ovos, verduras e carne. Estes por sua vez podem ser submetidos à processos como moagem, pasteurização, resfriamento, congelamento, fracionamento, higienização, congelamento e fermentação. 
Fig. 1 Alimentos in natura. Fonte: http://midan.aljazeera.net/File/GetImageCustom/1aaaeb4e-d222-425d-936a-1900b04bf259/754/424 <Acesso em 30 de janeiro de 2020>. 
Fig. 1 Alimentos in natura. <Disponível em: http://midan.aljazeera.net/File/GetImageCustom/1aaaeb4e-d222-425d-936a-1900b04bf259/754/424> Acesso em 29 de janeiro de 2020. 

Já os alimentos processados são aqueles que recebem adição de sal, açúcar e outras substâncias de uso culinário com o objetivo de aumentar a durabilidade e palatabilidade, como por exemplo    frutas e legumes acondicionados em salmouras, salga e calda; peixes e carnes enlatados e conservados em sal, óleo, defumados e queijos curados. Existem também os ingredientes processados, que são extraídos de produtos in natura através de processos industriais, como o azeite, a manteiga, o sal e açúcar, sendo estes empregados na hora do preparo de alimentos.
Fig. 2. Ingrediente processad0 (azeite de oliva). <Disponível em: https://www.altoastral.com.br/wp-content/uploads/2017/01/azeite-750x500.jpg> Acesso em 29 de janeiro de 2020. 

E por fim, os alimentos ultraprocessados, que correspondem àqueles que são produzidos majoritariamente por compostos químicos extraídos de alimentos e modificados, como gorduras hidrogenadas, amido modificado, além daqueles que são sinteticamente obtidos, como conservantes, corantes e aromatizantes artificiais. 
Fig. 3. Alimentos ultraprocessados. <Disponível em: https://i.ytimg.com/vi/3Ygs83Oz9pk/maxresdefault.jpg> Acesso em 29 de janeiro de 2020. 

 Na maioria dos casos, são utilizados ingredientes de baixo custo, como por exemplo, açúcares, sal, gordura e proteína caracterizando os ultraprocessados em alimentos de baixo valor nutricional. Usualmente, podem ser encontrados facilmente em qualquer rede de mercados sob as mais variadas formas, como alimentos prontos para o consumo, por exemplo, achocolatados, salgados de milho, biscoitos, embutidos e bebidas adoçadas como refrigerantes, iogurtes e sucos em pó; Por conta de tais características, que os fazem mais práticos para o consumo rápido e aumentam a sensação de prazer ao serem ingeridos, são cada vez mais consumidos pela população brasileira.  
Quais são os problemas associados ao consumo de ultraprocessados? Segundo pesquisas, cerca de 28% dos alimentos disponíveis nas residências das famílias brasileiras em 2009 correspondiam a alimentos ultraprocessados. Além disso há estudos que associam o consumo de tais produtos a problemas de saúde, como a obesidade, problemas cardíacos e síndromes metabólicas em adolescentes. 
Outro ponto importante é a questão da alimentação de crianças com produtos ultraprocessados, dados do ministério da saúde apontam que cerca de 56% das crianças com até 23 meses de idade já consumiu alimentos ultraprocessados além do aleitamento materno, sendo que dentre este tipo de alimento, o mais ofertado para as crianças é a bolacha. 
Fatores sociais como nível de escolaridade e renda das famílias estão correlacionadas com o consumo dos ultraprocessados, uma vez que apresentam baixo custo e há falta de instrução acerca da importância da amamentação exclusiva e alimentação complementar adequada. 
Em estudo feito nos EUA, demonstrou-se que a alimentação composta por 81% de alimentos ultraprocessados ao longo de 14 dias resultou em um ganho de massa, em média de 1 kg. O contrário também foi demonstrado, pois o grupo que consumiu refeições compostas por 88% de alimentos in natura ou minimamente processados nas mesmas quantidades, apresentaram redução de peso semelhante ao primeiro grupo. 
Dessa forma, pode-se concluir que é imprescindível uma alimentação feita de forma mais consciente e cautelosa no que se refere ao consumo de alimentos ultraprocessados, dando preferência aos alimentos in natura e minimamente processados. Além de suscitar outros debates como a produção de publicidade destinada ao público infantil, que instiga o consumo deste tipo de produto por parte das crianças que durante a infância não apresentam maturidade intelectual acerca do discernimento entre alimentos mais e menos saudáveis. 


Referências 

MONTEIRO, C. A. et al. Ultra-processed products are becoming dominant in the global food system. Obesity Reviews, [s.l.], v. 14, p.21-28, 23 out. 2013. Wiley. http://dx.doi.org/10.1111/obr.12107. 
LOUZADA, Maria Laura da Costa et al. Consumption of ultra-processed foods and obesity in Brazilian adolescents and adults. Preventive Medicine, [s.l.], v. 81, p.9-15, dez. 2015. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.ypmed.2015.07.018. 
BATALHA, Mônica Araujo. MÔNICA ARAUJO BATALHACONSUMO DE ALIMENTOS PROCESSADOS E ULTRAPROCESSADOS POR CRIANÇAS DE 13 A 35 MESES E FATORES ASSOCIADOS. 2016. 110 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós Graduação em Saúde Coletiva, Universidade Federal do Maranhão, São Luís, 2016. Disponível em: <https://tedebc.ufma.br/jspui/bitstream/tede/1002/1/Dissertacao-MonicaAraujoBatalha.pdf>. Acesso em: 29 jan. 2020. 
REVISTA PESQUISA FAPESP: Alimento que engordam. São Paulo: Fapesp, n. 281, jul. 2019. Mensal. Disponível em: <https://revistapesquisa.fapesp.br/2019/07/10/alimentos-que-engordam/>. Acesso em: 29 jan. 2020. 
HALL, Kevin D. et al. Ultra-Processed Diets Cause Excess Calorie Intake and Weight Gain: An Inpatient Randomized Controlled Trial of Ad Libitum Food Intake. Cell Metabolism, [s.l.], v. 30, n. 1, p.67-77, jul. 2019. Elsevier BV. http://dx.doi.org/10.1016/j.cmet.2019.05.008. Disponível em: <https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S1550413119302487>. Acesso em: 29 jan. 2020. 
JORNAL DA USP: Baixo custo e pouco valor nutricional são receita de ultraprocessados. São Paulo, 04 jan. 2018. Disponível em: <https://jornal.usp.br/?p=138249>. Acesso em: 29 jan. 2020. 
CANELLA, Daniela Silva et al. Ultra-Processed Food Products and Obesity in Brazilian Households (2008–2009). Plos One, [s.l.], v. 9, n. 3, p.1-6, 25 mar. 2014. Public Library of Science (PLoS). http://dx.doi.org/10.1371/journal.pone.0092752. Disponível em: <https://journals.plos.org/plosone/article%3Fid%3D10.1371/journal.pone.0092752#pone-0092752-t002>. Acesso em: 29 jan. 2020. 
AMANDA OLIVEIRA (São Paulo). Nova classificação dos alimentos considera processo de industrialização: Produtos processados e ultraprocessados podem ter impactos diferentes na saúde da população. 2016. Disponível em: <http://www.usp.br/aun/antigo/exibir?id=7421&ed=1290>. Acesso em: 29 jan. 2020. 
GIESTA, Juliana Mariante et al. Fatores associados à introdução precoce de alimentos ultraprocessados na alimentação de crianças menores de dois anos. Ciência & Saúde Coletiva, [s.l.], v. 24, n. 7, p.2387-2397, jul. 2019. FapUNIFESP (SciELO). http://dx.doi.org/10.1590/1413-81232018247.24162017. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232019000702387>. Acesso em: 29 jan. 2020. 
JORNAL DA USP: Consumo de alimentos ultraprocessados cresce mais de 50% na América Latina. São Paulo, 07 maio 2019. Disponível em: <https://jornal.usp.br/?p=240485>. Acesso em: 29 jan. 2020.

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