terça-feira, 9 de novembro de 2021

Suplementação alimentar e desassistida

             Créditos: Deymos. Fonte: iStock by getty images

Não é raro adentrar nas academias de atividades físicas e nos depararmos com pessoas malhando acompanhadas de uma garrafa com suplementos alimentares, tidos como aceleradores de emagrecimento, melhoria do desempenho físico, aumento de massa muscular, entre outros supostos benefícios. No entanto, é fundamental debruçarmos sobre esta questão com olhar crítico, uma vez que a ingestão de suplementos alimentares sem supervisão profissional adequada pode acarretar em uma série de problemas de saúde.

É comum encontrar os compostos vitamínicos, protéicos e minerais associados com ervas, como o chá verde (Camellia sinensis) , picão-preto (Bidens pilosa) e Aloe vera em forma de pó e cápsulas. Como não são considerados medicamentos, não são submetidos aos testes de fase 3, que analisam a segurança e eficácia de medicamentos comercializados nas farmácias, demandando somente o registro pela ANVISA. Dessa forma, ao associar suplementos alimentares com ervas naturais, transmite-se a ideia de que a ingestão sem o devido acompanhamento não é prejudicial à saúde.

Na realidade, os suplementos compostos por proteínas, aminoácidos, vitaminas e minerais são indicados para pessoas que possuem uma dieta deficiente em nutrientes, ou que sofrem com alguma carência nutricional específica, como é o caso da anemia ferropriva, além de demandar o acompanhamento de um profissional qualificado. Já os produtos oriundos de ervas e considerados como naturais ainda demandam um arcabouço de evidências científicas mais robustas para afirmar que possuem efeito benéfico maiores que os riscos envolvidos.

No caso do chá verde (Camellia sinensis) que é consumido de forma ampla em muitas culturas, o uso através da infusão não parece produzir danos ao fígado, no entanto, a European Food Safety Authority (EFSA) indicou que a ingestão da epigalocatequina galato (composto presente na planta) acima de 800 mg/dia pode ser associada à danos hepáticos, como no caso de Jim McCants, nos Estados Unidos, que necessitou de transplante de fígado após três meses de uso contínuo de cápsulas de chá verde, que possuem concentração mais elevada do que a ingestão da bebida em forma de infusão.

Outro caso semelhante é o do brasileiro Wallace Saldanha, que após alguns meses fazendo uso de suplementos baseados em proteínas e chá de picão-preto (Bidens pilosa) foi diagnosticado com hepatite tóxica aguda.

Portanto, é importante ressaltar que a melhor estratégia para ter um estilo de vida saudável, em termos nutricionais, é manter uma dieta baseada em alimentos naturais, sem a necessidade de suplementação, que deveria restringir-se apenas aos casos em que a pessoa possui algum tipo de necessidade nutricional que a alimentação convencional não é capaz de suprir e nestes casos se faz necessário o acompanhamento profissional adequado, atentando sempre pela busca por profissionais isentos de interesses mercadológicos relacionados ao tema.


Referências

https://drauziovarella.uol.com.br/alimentacao/o-perigo-dos-suplementos-alimentares/

https://drauziovarella.uol.com.br/checagens/cha-verde-em-capsulas-pode-causar-lesoes-graves-no-figado-checagem/

https://www.efsa.europa.eu/en/press/news/180418

https://www.bbc.com/portuguese/geral-45975898



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