Figura
1: Fonte: Universidad del
Claustro de Sor Juana. Acesso em 15 de abril de 2020.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), a estimativa é de que em 2050, a população mundial será de aproximadamente 9,1 bilhões em contraste com o que temos hoje de cerca de 7,6 bilhões. Mas quais são os impactos atrelados ao crescimento populacional para a alimentação? Com uma população mundial de 9,1 bilhões, estima-se que haverá a necessidade do aumento da produção de alimentos em 70%, isto é, aumentar em 1 bilhão de toneladas a produção de cereais e em cerca de 200 milhões de toneladas em termos de produção de carne; uma vez que a fome representa um dos maiores desafios para a segurança alimentar mundial.
Muito
tem se discutido acerca do consumo consciente de carne, vide
o crescimento dos movimentos em prol do vegetarianismo, que
consideram diversos pontos, como os direitos dos animais e a forma
exploratória como são tratados pelos sistemas de produção, e
questões ambientais, neste caso, a insustentabilidade da produção
de carnes, uma vez que grande parte das regiões destinadas para o
agronegócio tem como objetivo, alimentar o gado, que além da
ocupação de espaço físico e necessidade
de alimento,
demanda grande quantidade de água e é responsável pela emissão de
gases de efeito estuda em larga escala.
Nesse
sentido, como garantir a segurança alimentar para as pessoas, tendo
em vista que o modo de produção de carne atualmente já é
insustentável para os recursos naturais do planeta e ainda assim não
atende as demandas das sociedades?
Uma
alternativa interessante que
tem
ganhado espaço para discussão é a entomofagia, isto é, o consumo
de proteína derivada de insetos, que é um traço comum de diversas
culturas ao redor do mundo, abrangendo
130 países e 3071 grupos étnicos com 2086 espécies comestíveis.
Os
insetos podem ser consumidos de formas variadas, como ovos,
larvas, pulpas e adultos, podendo ser inteiros ou processados,
resultando em uma fonte de proteína em pó. Além
disso, possuem diversas vantagens em relação a produção de
carnes, sendo estas:
1)Possuem
ciclo de vida curto, o que diminui o tempo de produção;
2)Se
reproduzem facilmente e em grande escala, isto é, geram grandes
quantidades de filhotes, de forma que uma fêmea de grilo doméstico
Acheta
domesticus
chega a colocar entre 1.200 e 1.500 ovos entre 3 e 4 semanas;
3)Exigem
menos espaço físico;
4)Demandam
menores quantidades de alimentos, pois
algumas espécies são muito eficientes do ponto de vista da
conversão de alimentos ingeridos em massa corporal, haja vista
que em média, para a produção de 1 kg de massa de insetos, são
necessários 2 kg de ração. O que não é observado na produção
de carne bovina, na qual cerca de 8 kg de ração são necessários
para obter 1 kg de massa;
5)Menores
quantidades de água;
6)São
amplamente distribuídos ao longo do planeta;
7)Emitem
gases de efeito estufa em menores
quantidade por quilograma de massa, quando comparadas com outras
criações, por exemplo, um porco chega a produzir cerca de 100 vezes
mais gases de efeito estufa (particularmente metano e óxido nitroso)
por quilograma de massa do que larvas de Tenebrio
molitor;
8)Alto
valor nutricional: possuem maior proporção de proteínas por
quantidade de massa, por exemplo a formiga tanajura Atta
cephalotes
possui 42,59% de proteína, enquanto que as carnes de frango e bovina
apresentam 23% e 20%, respectivamente. Além disso
algumas espécies também são ricas em minerais (cobre, ferro,
manganês, magnésio, fósforo, selênio e zinco) bem como níveis
satisfatórios de lipídios.
Sob
essa perspectiva, a
entomofagia aparece como sendo pouco difundida ou esquecida em
culturas ocidentais, e mais presentes no continente africano e
asiático. No Brasil alguns insetos podem ser encontrados com certa
facilidade no cotidiano, como por exemplo o emprego da cochonilha
Dactylopius
coccus para
a produção do corante mais conhecido como carmim, presente em
alimentos industrializados como iogurtes, bolachas recheadas e
geleias.
Outros
exemplos
são
as formigas do gênero Atta
como a tanajura ou içá e saúva,
consumidas
originalmente por tribos indígenas e atualmente presente na
culinária de
estados do norte, nordeste, centro-oeste e sudeste.
3: Formiga tanajura ou içá.
Fonte: Portal de Zoologia de Pernambuco
<http://www.portal.zoo.bio.br/media391> acesso em 15 de abril
de 2020 Figura
Contudo, de modo geral a população apresenta certa aversão aos insetos como forma de alimentação, que comumente são relacionados com a transmissão de doenças, no entanto é importante ressaltar que sob condições adequadas de criação em cativeiro, não existem relatos de transmissão de agentes patógenos a partir da ingestão de insetos e além disso, ensaios microbiológicos realizados testaram negativamente para microrganismos como Salmonella sp. e Listeria monocytogenes, contudo o pesquisador frisa a importância de tratamento térmico adequado antes do consumo.
Nos
últimos 5 anos, a
quantidade de estudos científicos na
área vem aumentando, bem como algumas iniciativas por parte de
empresas nacionais que surgiram justamente com a proposta de produzir
e comercializar insetos tanto para a alimentação de animais
referentes a pecuária, quanto para a alimentação humana.
4: Salgadinho feito pela
empresa Chirps a partir de insetos processados. Fonte: Revista
Pesquisa FAPESP
<https://revistapesquisa.fapesp.br/2020/04/07/insetos-comestiveis/>
acesso em 15 de abril de 2020 Figura
Portanto,
a entomofagia representa uma boa alternativa para contribuir com a
promoção e a manutenção da segurança alimentar da população
mundial, além de um modelo mais sustentável de produção e ao
mesmo tempo, um novo segmento de mercado com alto potencial de
expansão,
atentando para o Brasil como um potencial produtor e exportador, dado
as vantagens climáticas e de demais recursos naturais aqui
presentes.
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Acesso em: 15 abr. 2020.
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