FONTE: BeefPoint |
Nas últimas décadas a produção de carne vem enfrentando alguns desafios, como o impacto ambiental, aumento na emissão de gases do efeito estufa (metano, dióxido de carbono e óxido nítrico) e a crescente pressão popular sobre o bem-estar animal. Segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), estima-se que a população mundial atinja a marca de 9 bilhões de pessoas em 2050, o que pode ocasionar em um aumento de até 73% na demanda mundial por carne. Com base em tais fatos, surge-se a necessidade de buscar tecnologias alternativas para aumentar a produção de proteínas de origem animal.
A carne artificial, carne de laboratório, carne in vitro ou também denominada de carne sintética, está cada vez mais perto de chegar aos mercados. Atualmente dezenas de empresas estão investindo no desenvolvimento deste tipo de carne, porém ainda é preciso resolver alguns problemas para que seja viável, como tornar o produto atraente para o consumidor e verdadeiramente sustentável.
A produção de bacon desenvolvido pela Universidade de Bath na Inglaterra e de hambúrgueres pela Universidade de Maastricht na Holanda são alguns dos exemplos de projetos em andamento. Em estágio mais avançado tem-se os nuggets de frango in vitro produzidos pela startup americana Eat Just, que em dezembro de 2020 conseguiu autorização da Agência Alimentar de Singapura para a sua comercialização.
COMO É PRODUZIDA?
FONTE: Mosa Meat |
Primeiramente através de biópsia é feita a retirada de células animais, em seguida são coletadas células-tronco musculares e colocadas em meio de cultura contendo fatores de crescimento e nutrientes para favorecer a multiplicação das células. Com o uso de reatores biológicos o crescimento é acelerado até que haja a aglutinação dessas células formando pequenos filamentos. Microtransportadores são introduzidos nas células cultivadas para que estas se desenvolvam em fibras musculares específicas e mais largas.
Posteriormente as fibras formadas são unidas e misturadas a aditivos para adquirir consistência, sabor e cor característica, formando assim um pedaço de carne artificial. Todo o processo leva cerca de 21 dias.
A adição de aditivos é essencial para que haja adesão do consumidor. A carne in vitro possui coloração amarelada pela ausência de mioglobina, sendo feito o uso de corantes naturais como açafrão, caramelo e suco de beterraba. Já com relação a sabor e textura é preciso que outras células como de gordura e colágeno sejam desenvolvidas para que a complexidade da carne natural seja reproduzida.
Entenda melhor sobre o processo de produção no vídeo abaixo:
VANTAGENS
Atualmente a pecuária é responsável pela emissão de 14,5% de todas as emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) segundo a FAO, sendo 65% destes advindo da criação de gado bovino. Em tese, a carne produzida em laboratório seria uma alternativa mais sustentável;
De acordo com estudo realizado pela Universidade de Oxford juntamente com a Universidade de Amsterdam, a produção de carne em laboratório representa uma redução de 82-96% no consumo de água comparada a produção convencional;
Embora alguns pesquisadores veem com desconfiança a não utilização de hormônios para a produção, as empresas envolvidas afirmam que seu uso não é necessário;
A carne in vitro evitaria os maus-tratos e o abate aos animais, uma vez que a indústria da carne frequentemente é alvo de denúncias por crueldade animal.
DESVANTAGENS
Com o alto custo de produção, a carne de laboratório ainda não é considerada economicamente viável, um exemplo é o nuggets de frango produzido pela Eat Just que foi anunciada inicialmente com um custo de US$50 por unidade. Porém a tendência é que o custo diminua conforme as pesquisas avancem e a produção aumente de escala;
Estudo da Universidade de Oxford aponta que a longo prazo a produção de carne artificial traria maior prejuízo ao meio ambiente do que a partir do gado. Isso seria devido ao gás metano, que mesmo tendo um impacto climático maior que o dióxido de carbono, ele não acumulativo ao longo do tempo, ficando por cerca de 12 anos na atmosfera, enquanto que o dióxido de carbono (emitido na produção da carne artificial) persiste por milênios;
A realização de biópsia nos animais para obtenção da células-tronco é alvo de debate pela comunidade vegana, que argumentam que o produto segue baseado em exploração animal;
Criação de subprodutos químicos prejudiciais ao meio ambiente;
Devido a alta taxa de replicação celular o desenvolvimento de células cancerígenas é favorecido.
A demanda por produtos alternativos a carne vem crescendo nos últimos anos, e a carne artificial tem se mostrado uma opção interessante nesse âmbito. Porém ainda há muitas discussões sobre se a carne artificial seria realmente saudável e sustentável, além de questões a serem trabalhadas como a aceitação do público e a certificação de segurança desse tipo de alimento.
REFERÊNCIAS:
Artigo: Carnes para o futuro: carne orgânica x carne artificial, uma revisão (UFMS)
O que é carne artificial? (ecycle.com.br)
Carne de laboratório é o futuro da alimentação? Entenda prós e contras - UOL ECOA
Carne artificial de frango é vendida pela 1ª vez no mundo em Cingapura - UOL Notícias
Carne cultivada em laboratório: o futuro da produção de carne? - Scot Consultoria
Vista do Carne artificial (unicamp.br)
Environmental Impacts of Cultured Meat Production | Environmental Science & Technology (acs.org)
Bife de laboratório : Revista Pesquisa Fapesp
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