O camarão é um crustáceo que habita água doce e
salgada, sendo de bom valor comercial. O Nordeste do Brasil tem se destacado
como um dos maiores produtores brasileiros do camarão branco do Pacífico (Litopenaeus vannamei), cultivado
principalmente em viveiros.
A despesca do camarão marinho Litopenaeus vannamei acontece quando o crustáceo atinge o tamanho e peso desejados pelo produtor. A morte é ocasionada por choque térmico, em água gelada e em seguida, é adicionado um aditivo alimentar antioxidante, o metabissulfito de sódio (Na2S2O5).
Nas fazendas de camarão, o procedimento usual é a imersão dos camarões despescados, em água com gelo contendo metabissulfito de sódio, que é muito utilizado na indústria alimentícia como inibidores da reação oxienzimática de escurecimento, em especial, para reduzir a melanose dos camarões, processo que afeta a sua coloração de escurecimento devido à formação de melanina. Essa mudança de cor afeta muito a venda do camarão, a ponto de ser rejeitada pelos consumidores, embora por si só não tenha efeitos prejudiciais à saúde, mas lhe dá um aspecto desagradável que diminui sua qualidade, prazo de validade e anula seu valor comercial.
Imagem: (1) Camarão com melanose e (2) camarão no gelo
com metabissulfito.
Fonte:
Google Imagens
Para a
inibição do aparecimento dessas manchas pretas, o uso de sulfitos constitui um
dos métodos mais simples, de custo mais barato e o mais eficiente, tendo como
agente ativo o dióxido de enxofre (SO2). Este aditivo atua inibindo
a enzima polifenoloxidase e, portanto previne ou retarda a melanose preservando
a qualidade do camarão. A forma de utilização é imergir o camarão,
imediatamente após a colheita, em uma solução que pode ser de 10% a 12% por
quinze a vinte minutos com água e gelo. A temperatura da solução não deve ser
superior a 2°C. É importante fazer este tratamento antes do início da melanose.
Desta forma, o camarão absorve o metabissulfito de sódio. Posteriormente, é
transportado para a planta de beneficiamento para ser classificado e embalado
in natura, refrigerado ou congelado. Durante esse processo, o dióxido de
enxofre SO2 é gradualmente eliminado por drenagem e evaporação, diminuindo sua
concentração inicial.
Níveis de teor de sulfitos seguros e recomendados
A Resolução CNS/MS Nº 04, de 24 de novembro de
1988, estabelece os limites máximos do uso de aditivos e de coadjuvantes de
tecnologia do camarão congelado, sendo para o metabissulfito de 0,01g para camarões e lagostas frescos
logo após a despesca e 0,03g para camarões e lagostas cozidas. Na mesma
portaria, destaca que deve conter no rótulo que ocorreu o uso do metabissulfito
de sódio (BRASIL, 1988).
E ainda, segundo a OMS, os resíduos do metabissulfito de sódio é o
dióxido de enxofre (SO2), não devem ultrapassar as concentrações da faixa de 40
ppm a 100 ppm, tanto para camarão fresco quanto congelado.
Então, quais os riscos do uso de metabissulfito no camarão?
O metabissulfito de sódio em contato com ácidos,
água e/ou gelo libera o gás dióxido de enxofre (SO2) é corrosivo, e que pode
ser mortal se inalado. Pode causar reações alérgicas severas em pessoas
asmáticas ou sensíveis a sulfitos. Concentrações e tempo de imersão elevados
causam níveis de dióxido de enxofre (SO2) residual no camarão maiores que 100
ppm, valor acima do permitido pela legislação brasileira, e que poderá
ocasionar crises de asma, reações cutâneas (urticárias), diarréias, choque
anafilático, dores de cabeça, dores abdominais, náuseas e tonturas. Essas
reações podem ser graves em usuários sensíveis. Por esse motivo, os níveis de
SO2 devem ser controlados antes de lançar o produto no mercado. É importante
que exista um sistema ou norma que estabeleça um estudo e gestão de riscos para
evitar que um produto com falta de segurança entre no mercado.
A concentração máxima permitida pela legislação nem
sempre é respeitada, pois há relatos de produtores sem licença e indústrias
clandestinas (sem serviço de inspeção) que não respeitam o limite estabelecido.
Os camarões podem ser submetidos à metabissulfito tanto na despesca quanto na
indústria. A legislação determina que o camarão possua uma concentração máxima
deste composto, indiferente se é na recepção desse produto ou na expedição
dele. Auditorias sanitárias executadas pelo órgão responsável tem como objetivo
principal garantir um alimento seguro para consumo. Uma solução para a falta de
padronização seria o uso de metabissulfito somente na despesca, permitindo um
melhor controle sobre a quantidade do produto utilizada.
Dentre essas
críticas ao uso do metabissulfito, destaca-se ainda o lançamento de resíduos do
produto nos corpos hídricos, fato que provoca a morte da flora e da fauna
aquática da região adjacente. Além disso, existem críticas também ao manejo do
produto nas fazendas, onde os trabalhadores muitas vezes utilizam o
metabissulfito sem treinamento e equipamentos adequados, visto que são produtos
irritantes das vias respiratórias.
Mas como adquirir camarão seguro e dentro das normas?
Adquira somente produtos com o selo de serviço de
inspeção, pois esses possuem auditoria do órgão fiscalizador e,
consequentemente, uma maior garantia de qualidade. Além disso, dê preferência
para empresas consolidadas no mercado, pois estas provavelmente inserem esse
perigo no seu programa de APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de
Controle), que também é um requisito para exportação.
O uso correto
deste produto químico seguindo as normas de segurança para o manuseio, para o
descarte do resíduo e para a concentração no alimento, não apresenta perigo
para o homem ou para o meio ambiente. A questão está na responsabilidade e a
ética de quem o está utilizando.
Fontes:
GAMA, L. G. Influência Do Teor
Residual De Sulfito Sobre A Qualidade Do Camarão Marinho. Dissertação
(Mestrado). Centro de Tecnologia de Alimentos. Universidade Federal da Paraíba
– UFPE. João Pessoa, 2015.
O metabissulfito de sódio e o seu
uso na carcinicultura. Disponível em <
https://panoramadaaquicultura.com.br/o-metabissulfito-de-sodio-e-o-seu-uso-na-carcinicultura/>
Acesso em: 05 Abr. 2021.
Sulfitos no camarão: qual é o
risco? Disponível em: < https://foodsafetybrazil.org/sulfitos-no-camarao-qual-e-o-risco/>
Acesso em: 05 Abr. 2021.
GÓES, L. et al. Uso do metabissulfito de sódio no controle de
microorganismos em camarões marinhos Litopenaeus
vannamei. Acta Scientiarum. Biological Sciences, v. 28, n. 2, 2006, pp.
153-157 Universidade Estadual de Maringá. Maringá, 2006.
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