Você
sabe o que é plástico e como ele pode estar presente em nossa
dieta?
Plástico
é um material que como o próprio nome diz, é extremamente
versátil, formado por polímeros, isto é, longas cadeias de
moléculas que conferem, leveza, moldabilidade, resistência à
degradação e sobretudo, menor custo de produção quando comparado
com demais matérias-primas como madeira e metais.
Dessa
forma, a fabricação e emprego do plástico a partir da segunda
metade do século XX teve crescimento exponencial e segue até a
contemporaneidade, haja visto que é praticamente impossível
imaginar uma realidade em que o plástico não faça parte do
cotidiano, como por exemplo no setor de embalagens, produtos
cosméticos, higiene pessoal, utensílios cirúrgicos , aparelhos
eletrônicos e etc.
No
entanto, ao mesmo tempo que tornou a vida da população de modo
geral muito mais prática, tem representado um problema ambiental de
dimensões globais, justamente pela alta resistência à degradação
por fatores abióticos como água, pressão e radiação solar.
Resultando em quantidades inimagináveis de plástico que desde o
início do processo de produção em massa não foi degradado e
perdura até hoje nos ecossistemas.
De
acordo com um estudo publicado pela Science Advances
em Julho de 2017, cerca de 8,9 bilhões de toneladas de plásticos
primários (virgens) ou secundários (oriundos de reciclagem) já
foram produzidos desde o final do último século e desse total,
cerca de 6,3 bilhões de toneladas viraram lixo enquanto que 2,6
ainda encontram-se em uso. Sendo assim, uma das grandes preocupações
com relação ao dados apresentados é a quantidade de lixo plástico
que acaba nos mares e oceanos, com uma estimativa de 8 milhões de
toneladas por ano, o que
acaba por prejudicar a vida marinha e consequentemente a própria
humanidade.
Tendo tudo
isso em vista, alguns estudos recentes demonstraram que há presença
de microplásticos em alguns alimentos como por exemplo o sal
comercial de cozinha e a água doce, engarrafada ou não.
Mas
o que são microplásticos? São pequenas frações oriundas de
outros materiais feitos de plásticos; são considerados
microplásticos aqueles que possuem comprimento e/ou diâmetro
inferior à 5 mm, sendo muito comuns partículas da escala de
micrômetros, isto é, milésimos de 1 mm.
De
onde vêm essas micropartículas? São inúmeras fontes possíveis
para tal, desde a fabricação de pellets
que são pequenas esferas plásticas utilizadas como matéria-prima
para a fabricação de embalagens, até a lenta degradação mecânica
de objetos maiores feitos de plástico, como garrafas PET,
sacolas redes de pesca e
outros
objetos
comumente encontradas nos oceanos. Além disso, estima-se que uma
das grandes fontes das fibras de microplásticos nos oceanos (cerca
de 90%) é a água oriunda da lavagem de roupas, uma vez que cerca de
60% de todas as vestimentas produzidas são feitas a partir de fibras
plásticas.
Dessa
forma, ao lavar as roupas, milhares de fibras de soltam dos tecidos e
saturam os filtros das máquinas, passando através delas e
consequentemente passando pelas estações de tratamento, tendo como
destino final, o mar, onde ficarão suspensas na água até serem
ingeridas por animais como por exemplo crustáceos e
peixes que por sua vez serão comercializados e ingeridos por nós,
seres humanos.
Quais
são os problemas associados ao microplástico? Em se tratando da
vida marinha, muitos animais acabam por confundir as partículas
sintéticas com alimento e as ingerem, dessa forma, inúmeros
problemas decorrem desse fenômeno, como por exemplo a obstrução do
trato digestivo e muitas vezes rompimento das paredes de seus órgãos
pelo fato de apresentarem formato pontiagudo em muitos casos,
tornando-se potenciais objetos cortantes.
Já
em seres humanos, ainda estão sendo realizados estudos na área, mas
já foi demonstrado que além de estarmos ingerindo alimentos
contaminados com microplásticos, há microplásticos em forma de
fibras suspensas no ar que respiramos, que podem ser originários de
diversas fontes como das roupas que vestimos e do atrito de pneus com
o asfalto, levantando preocupações dos possíveis impactos sobre a
saúde humana ao respirar tais fibras.
Dentre
os mais diversos efeitos no organismo humano, um que chama a atenção
é a adsorção de poluentes orgânicos persistentes (POP’s) por
parte das partículas plásticas, isto é, o plástico ao ficar em
contato com diversas substâncias orgânicas poluentes que estão
presentes também na água dos mares e oceanos, acaba por assimilar
essas substâncias contaminantes ao longo de sua superfície, dessa
forma, tais substâncias podem ser liberadas dentro do trato gastro
intestinal dos animais pela ação de enzimas digestivas.
Outro
ponto importante a ser discutido é a questão do Bisfenol A (BPA),
que é uma substância empregada na fabricação de alguns tipos de
plástico. Comumente encontrada na composição de resinas epóxi que
revestem a parte interna de latas metálicas e utilizadas também em
papéis térmicos destinados a embalar alimentos. Essa substância é
amplamente encontrada no meio ambiente bem como já foi encontrada
em amostras de urina de 93% de 2.517 estadunidenses acima de 6 anos
de idade pelo Centro de Controle de Doenças (CDC).
Ao
ser testada, em laboratório, demonstrou ter impactos sobre a saúde
a partir da exposição, chegando a ser proibida pela Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
em 2011, em especial para a
fabricação de mamadeiras. Segundo a Sociedade Brasileira de
Endocrinologia e Metabologia e a Sociedade Americana de
Endocrinologia, o BPA é um desregulador hormonal, uma vez que pode
se ligar aos receptores de estrógeno de diversas maneiras,
impactando o sistema hormonal humano. Em outro estudo realizado com
ratos, demonstrou-se que houve danos à espermatogênese dos
indivíduos cuja gestante foi exposta ao bisfenol A e
além disso, foram registrados também alterações do metabolismo e
da produção de hormônios na tireoide, resultando em um quadro
semelhante ao de hipertireoidismo em humano. No entanto ainda
não se tem resultados conclusivos acerca dos efeitos em seres
humanos.
Diante
deste cenário, o que é possível ser feito? É claro que a
utilização do plástico foi fundamental para o desenvolvimento
tecnológico da humanidade e sem ele, muitas das tecnologias hoje
conhecidas não seriam possíveis. No entanto, é possível e
necessário ter consciência sobre como o uso irracional e
desenfreado deste material pode levar à danos irreversíveis ao
ecossistema e à manutenção das mais diversas formas de vida,
incluindo a nossa. Sendo assim, algumas medidas podem ser empregadas,
como por exemplo o uso controlado denominados produtos plásticos
de uso único, isto é, aqueles como pratos, copos e talheres,
canudos e sacolas que são descartados imediatamente após o uso
representam de 35% a 40% da produção atual.
Diversos
países do continente
africano como Tanzânia,
Quênia, Ruanda e outros 31
países do mesmo continente já aboliram ou estão lutando para que
este objetivo seja alcançado. Na União Europeia também foi
aprovada uma decisão que proíbe produtos plásticos descartáveis.
Além
de medidas de restrição, pode-se buscar desenvolver materiais
alternativos ao plástico e se que sejam biodegradáveis, como por
exemplo a fabricação de couro sintético a partir do aproveitamento
de casas de uva, e a elaboração de um plástico que seja de fato
biodegradável como resinas obtidas a a partir de lignina e penas de
aves presente na madeira e descartada pelas indústrias de papel
e a partir da coleta de penas
de aves de corte em granjas.
Através
da educação pode-se reduzir a utilização de plástico de forma
desnecessária, haja visto que em supermercados da Tailândia
substituiu-se a utilização de embalagens plásticas para os
vegetais comercializados por embalagens feitas a partir de folhas
vegetais; na Alemanha, foi criado um mercado no qual não se utiliza
embalagens, estimulando o consumidor a levar embalagens reutilizáveis
recipientes de vidro e sacolas de tecido. Representando assim,
iniciativas inspiradoras para serem adotadas no Brasil e que são
necessárias, mas que demandam esforço para que haja de fato uma
mudança cultural através da conscientização, que por sua vez pode
ter início em diversos setores da sociedade, como nas escolas e
dentro dos próprios supermercados, contando com apoio midiático e
incentivos governamentais.
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