segunda-feira, 5 de agosto de 2019

A importância das especiarias na conservação de alimentos



As especiarias, também conhecidas como condimentos, são utilizadas desde os primórdios e tiveram grande importância no comércio, sendo empregadas para diversas funções, dentre elas melhorar o sabor e conservar os alimentos, pois naquela época os alimentos não eram gostosos e não existiam as geladeiras. Quem nunca ouviu falar sobre as grandes navegações em busca das especiarias nas “Índias”? Por centenas de anos, navios cruzaram a costa indiana, levando os condimentos do Oriente para o Ocidente enfrentando piratas, roubos, tempestades e naufrágios. Contudo, os desafios valiam a pena, pois os riscos eram excedidos em valor pelos eventuais lucros, principalmente na Grécia e Roma, onde a demanda era grande. 




Os alimentos são constituídos de componentes como carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas e pigmentos que regulam seu sabor, aspecto e valor nutritivo. Entretanto, alguns desses constituintes podem ser sensíveis à irradiação, a qual dependendo da dose, pode causar transformações prejudiciais no sabor, odor e cor desses alimentos. Dentre essas alterações há aquelas que são resultantes de reações químicas como por exemplo a oxidação lipídica, dando origem ao sabor rançoso.

A oxidação lipídica pode ser prevenida pela adição de antioxidantes, substâncias que sequestram ou impedem a formação de radicais livres. O efeito antioxidante das especiarias foi inicialmente evidenciado em 1952, em 32 especiarias, das quais o alecrim e a sálvia foram considerados as mais eficazes. Descobriram a mesma ação posteriormente no orégano, tomilho, gengibre, pimenta, mostarda, canela, coentro, entre outras. O alecrim é um antioxidante lipídico e quelante de metais, além de atuar na absorção de radicais superóxidos. O orégano possui um óleo essencial rico em timol e carvacrol, os quais possuem efeito antioxidante considerável no processo de oxidação de óleos e gorduras animais.

Além das propriedades antioxidantes, as especiarias também possuem ação antimicrobiana. A indústria alimentícia tem como desafio produzir alimentos que apresentam vida útil longa e inocuidade com relação à presença de microrganismos deteriorantes, patogênicos e suas toxinas. A procura por produtos de boa qualidade, livres de conservantes e minimamente processados, porém com vida útil longa, tem aumentado cada vez mais.

A crescente busca pela informação renovou o interesse da utilização de especiarias para atuarem não só como ingredientes de inúmeros alimentos, tornando-os mais saborosos e digestivos, mas também com intuito de atuarem como antimicrobianos devido à presença de óleos essenciais. Todavia, não basta apenas substituir os aditivos sintéticos pelos naturais, é necessário determinar a concentração ideal, a qual realçará o aroma, sabor e inibirá o crescimento microbiano.

Os óleos essenciais apresentam compostos capazes de inibir de forma direta ou indireta os sistemas enzimáticos dos microrganismos por mecanismos semelhantes aos dos antibióticos (substâncias químicas com capacidade para matar ou inibir o desenvolvimento de microrganismos). Eles interferem em sistemas essenciais para a reprodução e sobrevivência desses microrganismos causando efeitos letais às suas células. Os óleos essenciais são constituídos de diversas substâncias tais como os compostos fenólicos, principais responsáveis pela ação antimicrobiana, cetonas, aldeídos, álcoois, flavonoides, ésteres, dentre outros. Eles agem por mecanismos distintos aumentando a permeabilidade da membrana por causar danos à membrana citoplasmática e na parede celular. 



Dentre as especiarias mais conhecidas estão as pimentas (páprica, pimenta vermelha, pimenta do reino e pimenta malagueta), alecrim, manjericão, sálvia, cravo-da-índia, louro, noz-moscada, orégano, canela, cardamomo, tomilho, gengibre e cominho. Os extratos de alecrim talvez sejam os mais estudados por possuírem ação antioxidante notória explicando a aplicação desta especiaria em diversos produtos que são susceptíveis à oxidação, tais como maioneses, salsichas e diferentes tipos de carnes. O manjericão, amplamente cultivado no Brasil, é constituído de óleos essenciais com propriedades antioxidantes e antimicrobianas. A sálvia tem folhas longas e aveludadas, um sabor forte, mas ao mesmo tempo refrescante, que se assemelha levemente ao alecrim. Possui ação antioxidante evidente, mas apresenta também atividade anti-inflamatória. O tomilho pelo seu sabor picante, é utilizado como condimento para diversos pratos na culinária e possui propriedades antioxidantes e antimicrobianas. Orégano é um dos temperos mais usados na culinária, como em molhos de tomate, massas, saladas diversas e alguns tipos de churrasco. Destaca-se pela alta atividade antioxidante, mas possui também propriedades antimicrobianas.
A canela é a mais antiga das especiarias, foi tão valorizada que era considerada um item a ser presenteado a monarcas. Utilizada na panificação, confeitaria e carnes processadas possui propriedade antioxidante e antimicrobiana. Componente essencial de comidas mexicanas, junto com a pimenta-malagueta e o orégano, o uso de cominho é prevalecente em muitas culinárias latino americanas, tem ação antioxidante. O tomilho originalmente é muito empregado como erva medicinal, mas tem sido comumente utilizado como uma especiaria culinária para adicionar sabor. Possui atividade antimicrobiana e antioxidante evidente, além de ação expectorante e antisséptica. 


As estratégias para aumentar a estabilidade dos produtos alimentícios, que abrangem a manutenção das propriedades nutricionais e sensoriais bem como durabilidade (vida de prateleira), incluem diversos métodos com intuito de evitar alterações indesejáveis, sejam elas de origem microbiana, enzimática, física ou química.
As especiarias têm sua relevância na história da alimentação humana. Elas passaram a ser utilizadas na culinária a partir do conhecimento de suas propriedades, como estimular o apetite e conferir aroma antes e durante a cocção. São responsáveis por diversos sabores (desde suaves até picantes), proporcionam excelentes azeites de cozinha, como o de gergelim e são utilizadas também como licores.
Considerando a preocupação atual com efeitos adversos que os antioxidantes sintéticos podem causar ao organismo, observa-se que os extratos de especiarias podem apresentar-se como fonte acessível de antioxidantes naturais. A adição de especiarias, de diferentes tipos e formas, pode evitar a deterioração oxidativa em vários sistemas, além de possível suplemento alimentício e farmacêutico. A capacidade apresentada pelos óleos essenciais em inibir o crescimento bacteriano permite que os mesmos sejam utilizados como antimicrobianos na indústria de alimentos.





Referências:








Nenhum comentário:

Postar um comentário